Brasil Sem Frestas ameniza o frio da primeira família em Charqueadas
Um mundo melhor é possível: projeto utiliza embalagens de leite recicladas para dar melhores condições de moradia a pessoas em vulnerabilidade social
Carla Miller Trainini
Já imaginou morar em uma residência de madeira em condições
precárias e sem qualquer vedação contra o vento, tendo frio e chuva entrando
por todos os lados? Pois essas eram as condições de moradia do casal
charqueadense Cristian de Souza Lopes e Diovana Ramos de Figueiredo, que teve a
triste realidade atenuada no último sábado (6), por voluntários do projeto
Brasil Sem Frestas.
A família foi a primeira a ter sua casa revestida com caixas recicladas de
leite, que costuradas umas às outras e fixadas nas paredes e forro, formam um
poderoso isolamento térmico que pode amenizar em até 8 graus a temperatura
ambiente.
O projeto existe desde 2009 e já foi executado em diversos lugares, mas em
Charqueadas chegou apenas agora, pelas mãos da coordenadora do Brasil Sem
Frestas no município, Priscila Leite Marques. Para realizá-lo ela calcula que
sejam necessárias entre duas a três mil caixas de leite para revestir uma casa,
dependendo do seu tamanho.
- Nós conseguimos atender a primeira família porque uma grande doação veio de
Esteio, de uma senhora que trabalha em uma escola. Ela conseguiu arrecadar nove
mil caixas e nos entregou limpas e cortadas, prontas para serem fixadas. Foi
graças a ela que pudemos ajudar o casal que vivia em condições desumanas nesse
frio intenso que tomou conta do estado nos últimos dias – diz Priscila, que agradece
o engajamento do grande grupo de voluntários que aderiu ao projeto desde o
primeiro momento.
DOAÇÕES PARA O BEM
Priscila comenta que aos poucos o projeto vai tomando forma e as pessoas vão
abraçando a ideia, demonstrando consciência social e ambiental. Graças a isso,
muitas doações estão sendo recebidas. Mesmo assim, a nova residência a passar
por melhorias ainda não foi definida. Os pedidos são muitos e para que o
projeto possa ter continuidade mais arrecadações precisam ser feitas.
- Hoje já temos alguns apoiadores e diversos pontos de coleta. Os pedidos de
ajuda são inúmeros, mas para que possamos continuar atendendo é preciso juntar
mais material, como caixas de leite e grampos de madeira – finaliza Priscila,
que recebeu no primeiro momento quatro grampeadoras e caixas de grampos
ofertados por comerciantes de Charqueadas, seus pais e pela voluntaria Maria
Beatriz da Rosa Farias.
A PRIMEIRA FAMÍLIA
A primeira casa escolhida fica na Rua das Flores, no Bairro Colônia Penal. Ela é
grande e dividida entre duas famílias: de um lado moram os sogros de Diovana e
mais duas adolescentes, e do outro o casal e uma filha pequena, que possui
microcefalia e outra menina prevista para nascer em setembro. Para que o
trabalho seja bem feito, exige tempo. Por este motivo não foi possível concluir
tudo no mesmo dia e deve ser retomado no próximo sábado (13), com ajuda da equipe
de voluntários que aderiu ao projeto. Como toda ajuda é sempre bem-vinda, quem
quiser colaborar de alguma maneira deve entrar em contato pela página do
Projeto no Facebook.
O QUE ELA DISSE
“O projeto Brasil Sem Frestas começou
em Charqueadas há duas semanas e já conta com uma adesão muito boa, mas eu já
estava há um mês e meio estudando sobre ele, vendo a realidade, abrangência e
se seria possível dentro das minhas limitações. No dia 22 de junho ajudei no
revestimento de uma casa em Guaíba. Na ocasião eu sentei no lastro da cama
daquela família e disse para mim mesma: ‘é isso que quero para a minha vida’. E
foi assim que eu me apaixonei. Cheguei em casa com o coração quente e feliz, criei
imediatamente uma página na rede social, fiz um grupo no WhatsApp e dei início
a esse trabalho que foi muito bem recebido”.
Priscila Leite Marques, coordenadora do
Brasil Sem Frestas – Charqueadas, sobre o momento em que nasceu seu amor pelo
projeto.
SAIBA MAIS
PROJETO BRASIL SEM FRESTAS
Em setembro de 2009, em meio a uma tempestade, a química Maria Luisa Camozzato
preocupou-se com a situação das famílias em vulnerabilidade social na cidade de
Passo Fundo, na Região Norte do estado.
Ela percebia o risco que a comunidade corria ao conviver diariamente com o frio
e a umidade em seus lares após as chuvas. Conhecedora da estrutura das
embalagens Tetra Pak (caixinhas de leite), Maria Luisa teve a ideia de unir as
caixas, fazendo uma placa com efeito isolante térmico. Dessa forma, encontrou a
possibilidade de bloquear o frio, o vento e a água que entravam pelas frestas e
buracos das casas.
Assim nasceu o projeto Brasil Sem Frestas, que contou com a ajuda de colegas
que formaram um grupo de voluntariado que juntos iniciaram o trabalho de
coleta, corte e costura das caixas. A iniciativa permitiu que as famílias
pudessem ter um conforto imediato, sem depender de grandes investimentos ou
auxilio governamental. Rapidamente o projeto se espalhou para várias regiões do
Brasil e chegou no último sábado ao município de Charqueadas, quando a primeira
casa de madeira recebeu os revestimentos.
PONTOS DE COLETA
Em São Jerônimo:
* Bonato Center
* Xis Fofoca
* Sede da OAB
Em Charqueadas:
* Mercado Catielo
*Mercado Dia%
*Academia Fitness
*Posto Primeiro
*Sindicato dos Municipários
*Sindicato dos Metalúrgicos
*Candoca's Lanches
*Mecânica Inácio
*Mercado Macropan (Cohab)
*Ferragem Perlom
*Uniciclos
*Ferragem Cabral
*Mercado Bonato
*Maxgraphi
*Mettals
*Loja TaQi
*Postaços (Centro)
*Escola Cruz De Malta
*Escola Pio XII
*Escola Piratini
*Escola Assis Chateaubriand
*Realize Móveis Planejados
COMO CORTAR AS CAIXAS
O cuidado principal é com a higienização das caixas para evitar contaminações.
O processo é igual para qualquer tipo, sejam as retangulares ou as quadradas
com tampinhas:
1. Corte uma das extremidades da embalagem, sempre bem próximo às extremidades
e depois no meio ao lado da emenda
2. Enxague bem para tirar todo o líquido do produto
3. Deixe escorrer bem a água.
Assista ao vídeo de demonstração
IMPORTANTE
As embalagens que podem ser aproveitadas são as do tipo tetra pak, como
caixas de leite, leite condensado, creme de leite, sucos, entre outros. Além
destes, grampos de madeira para fixar o material também podem ser doados para
colaborar com o projeto.
VOCÊ SABIA?
* A caixa do tipo tetra pak demora até 200 anos para se decompor na natureza.
* Possui seis camadas, sendo quatro de polietileno, uma de papelão e uma de
alumínio.
* Seu revestimento permite isolamento térmico de até 8 graus.
* A reciclagem deste tipo de material evita danos ao meio ambiente e leva
condições mais dignas de moradia a pessoas em condições de vulnerabilidade
social.
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