Brasil pode enfrentar apagão elétrico semelhante ao de Portugal e Espanha, alertam especialistas
Instabilidade causada pela alta dependência de fontes renováveis pode comprometer o sistema elétrico brasileiro; Rio Grande do Sul e mais oito estados estão entre os mais vulneráveis

O Brasil corre o risco de enfrentar apagões semelhantes ao
recente colapso de energia que afetou Portugal e Espanha, alertam especialistas
no setor. O problema está relacionado à instabilidade do sistema elétrico,
causada pela crescente presença de fontes de energia renováveis, como solar e
eólica. Em ambos os países, a elevada participação dessas fontes no
fornecimento de eletricidade tem mostrado vulnerabilidades no sistema, com a
produção de energia variando de acordo com fatores climáticos, como a
intensidade do vento ou da luz solar.
Em 28 de abril, a Red Eléctrica de España (REE), operadora
do sistema elétrico espanhol, confirmou que a causa do apagão que deixou mais
de 50 milhões de pessoas sem energia foi uma falha interna no sistema. O evento
ocorreu após a desconexão simultânea de duas usinas no sudoeste da Espanha, que
causaram o colapso total da rede elétrica no país, também afetando Portugal e o
sul da França. Na hora do apagão, a energia solar representava 70% da demanda
nacional espanhola, com 17 a 18 gigawatts sendo gerados, mas uma queda abrupta
de 15 gigawatts em apenas cinco segundos desestabilizou o sistema.
A REE já havia alertado sobre a possibilidade de tais falhas
devido ao aumento da participação de fontes renováveis, principalmente a solar,
no sistema elétrico. Em fevereiro, a operadora comunicou à Comissão Nacional do
Mercado de Valores (CNMV) o risco de "desconexões" do sistema devido
ao excesso de renováveis. Esse fenômeno ocorre porque fontes como a solar geram
energia de forma intermitente, ou seja, a produção não é constante e depende de
fatores climáticos. Isso se soma ao fechamento de centrais térmicas e
nucleares, que deixam o sistema com menos "potência firme",
necessária para equilibrar e estabilizar a rede elétrica.
Risco similar para o Brasil
Especialistas alertam que o Brasil pode enfrentar um cenário
semelhante, devido ao crescimento acelerado da energia solar e eólica no país.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já indicou que a elevada presença
de painéis solares em residências e comércios pode causar apagões nos próximos
cinco anos. Estados como Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso,
Rondônia, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí estão entre
os mais vulneráveis, devido à alta penetração dessas fontes de energia.
O ONS está mapeando as subestações do país e adotando
medidas preventivas para mitigar os riscos, mas a intermitência das fontes
renováveis continua sendo uma preocupação. De acordo com o especialista em
energia elétrica Raimundo Batista Neto, as trocas de energia entre diferentes
regiões do país, como o Nordeste e o Sudeste, podem sobrecarregar o sistema e
afetar sua proteção. "Nem sempre conseguimos atender plenamente as cargas,
o que pode causar uma sobrecarga no sistema e comprometer a segurança
elétrica", explicou em entrevista à Rede Bandeirantes.
Em 2023, o Brasil já enfrentou um apagão de seis horas que
afetou 25 estados, causado justamente pela instabilidade gerada pela
intermitência da energia solar e eólica.
Desafios da transição energética
A crise na Espanha e os alertas para o Brasil evidenciam os
desafios da transição energética, especialmente com a crescente dependência de
fontes renováveis. Embora essas fontes sejam essenciais para reduzir a pegada
de carbono, elas exigem adaptações no gerenciamento da rede elétrica para
garantir a estabilidade e evitar colapsos como o ocorrido na Península Ibérica.
O sistema precisa de fontes complementares de energia firme, como hidrelétricas
e termelétricas, para equilibrar a produção intermitente de solar e eólica,
além de melhorias na infraestrutura para acomodar essa nova dinâmica de geração
de energia.
Esses eventos ressaltam a urgência de reestruturações no
setor energético, tanto na Espanha quanto no Brasil, para garantir que o avanço
das fontes renováveis não sobrecarregue o sistema elétrico e cause apagões em
grande escala.
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