Bolsonaro nega tentativa de golpe e diz esperar por 'ajuda externa'
Ex-presidente participou de ato que reuniu cerca de 45 mil manifestantes pró-anistia em São Paulo

Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro participaram na tarde deste domingo (6/04) de um ato na avenida Paulista, na região central da capital paulista, convocado por ele, para pedir a anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro em Brasília. O protesto começou por volta das 14h e ficou centralizado na defesa do projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados que concede anistia a condenados pelos atos antidemocráticos.
Em seu discurso Bolsonaro, defendeu a cabeleireira Débora Rodrigues Santos, presa por participação no ataque golpista e por ter pichado a estátua "A Justiça", em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), com um batom. Manifestantes vestidos de verde amarelo mostravam batons em referência a Débora, que já teve a prisão domiciliar concedida. Segundo a Procuradoria-Geral da República, ela aderiu ao movimento golpista desde o fim das eleições de 2022, e é suspeita de apagar provas e atrapalhar o trabalho de investigadores e da Justiça.
Discurso em inglês
Durante seu discurso, Bolsonaro surpreendeu ao tentar se dirigir ao público — e ao mundo — em inglês. Com frases simples, mas de efeito calculado, ele buscou chamar a atenção da comunidade internacional para as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que condenou diversos participantes dos atos. O ex-presidente foi alvo de comentários de apoio e de críticas.
—É inacreditável o que acontece — disse o ex-presidente, antes de admitir uma limitação pessoal: — Eu não falo inglês, uma grande falha da minha formação, mas quero dar um recado aqui para o mundo e depois eu faço a tradução para vocês — disse.
Na sequência, citou o caso de dois brasileiros condenados pelo STF: Otoniel da Cruz, de 45 anos, vendedor de picolé, e Carlos Eifler, de 54, que vendia pipocas gourmet. Ambos foram acusados de tentativa de golpe de Estado.
— Popcorn and ice cream vendors are convicted of attempting a coup in Brazil — afirmou Bolsonaro, antes de concluir, ainda em inglês: — This is shameful. These two should not be punished for a crime that never happened.
A fala gerou forte reação entre seus apoiadores, que aplaudiram de forma efusiva o tom de denúncia internacional.
Público
O ato deste domingo reuniu cerca de 45 mil manifestantes, segundo metodologia do Monitor do Debate Político do Cebrap em parceria com a ONG More in Common, que consiste em usar imagens da multidão, capturadas por drones. A contagem foi feita no momento de pico da manifestação, às 15h44, a partir de fotos aéreas analisadas com software de inteligência artificial.
Ajuda externa
Durante sua fala, Bolsonaro disse acreditar que se estivesse no Brasil em 8 de janeiro teria sido preso, o que não ocorreu porque ele viajou para os EUA em 30 de dezembro de 2022.
— Algo me avisou. Se eu estivesse no Brasil eu teria sido preso e estaria apodrecendo até hoje ou até assassinado — disse.
O ex-presidente lembrou que a falta de um dos filhos no ato, Eduardo Bolsonaro, que se licenciou do mandato de deputado federal e se mudou para os Estados Unidos alegando perseguição política. Segundo ele, Eduardo tem contato com pessoas importantes do mundo todo.
— Tenho esperança que de fora venha alguma coisa para cá — disse.
Além de Bolsonaro, estavam presentes na manifestação o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas; o de Minas Gerais, Romeu Zema; o do Paraná, Ratinho Junior; o do Amazonas, Wilson Lima; o de Goiás, Ronaldo Caiado; o de Mato Grosso, Mauro Mendes; e o de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL). Parlamentares e outras autoridades, como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, também participaram do ato.
Inelegível
Bolsonaro está inelegível por 8 anos, até 2030, porque a Justiça Eleitoral entendeu que a reunião com embaixadores estrangeiros, em julho de 2022, no Palácio da Alvorada, teve uso eleitoral. Na ocasião, o então presidente, fez afirmações sem provas, desacreditando o sistema eleitoral brasileiro.
Ele é réu por tentativa de golpe, junto com mais sete pessoas, desde o mês passado, desde a decisão unânime da Primeira Turma do STF. Os cinco ministros votaram para aceitar a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A partir de então, Bolsonaro e os outros réus, passarão a responder a um processo penal que pode condená-los à prisão.
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