A importância do estilo de vida para prevenir e até tratar doenças
Ter uma alimentação saudável, fazer exercícios físicos, administrar o estresse e manter boas conexões sociais são atitudes fundamentais para uma vida com mais saúde e longevidade

Fernanda Bassette
Agência Einstein
A medicina do estilo de vida tem ganhado cada vez mais destaque por oferecer às pessoas uma abordagem prática, integrada, personalizada e acessível para a promoção da saúde. Em vez de focar apenas na prevenção de doenças, ela aposta no cuidado contínuo por meio do incentivo a hábitos saudáveis, priorizando intervenções não invasivas em busca de qualidade de vida.
Mais do que isso: em muitos casos, também é aliada no tratamento de doenças e até consegue fazer a desprescrição de medicamentos, diminuindo doses ou eliminando o uso de remédios para doenças crônicas não transmissíveis.
— A gente foca no tratamento intensivo do estilo de vida — diz a médica Sley Tanigawa Guimarães, coordenadora da pós-graduação em medicina de estilo de vida da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein. — Os gastos com saúde só aumentam porque os hábitos das pessoas estão piorando muito. Isso tem consequências: epidemia de obesidade, de diabetes e o desenvolvimento de doenças crônicas cada vez mais cedo.
Conheça cada pilar da medicina do estilo de vida e saiba como eles podem impactar positivamente sua saúde:
1. Alimentação saudável
Dietas balanceadas — baseadas na ingestão adequada de frutas, verduras, legumes, grãos integrais, sementes, fontes proteicas “magras” e gorduras saudáveis — contribuem para o funcionamento adequado do corpo, pois contêm os nutrientes necessários ao organismo.
Uma boa alimentação reduz o risco de problemas como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e até certos tipos de câncer. Além disso, escolhas alimentares saudáveis podem ajudar a controlar o peso corporal, melhorar o funcionamento digestivo e fortalecer o sistema imunológico.
— O maior erro que as pessoas cometem na alimentação é não ter esses ingredientes no prato — observa Guimarães, que também é fundadora do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida. Exagerar no açúcar, no sal e no consumo de produtos ultraprocessados também é prejudicial à saúde. — O excesso de gordura saturada, por exemplo, está associado ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, sendo a principal causa de morte no Brasil e no mundo — destaca a médica.
Também é importante manter uma alimentação consciente, prestando atenção aos sinais de fome e saciedade. A sugestão é comer até quando se sentir 80% satisfeito, evitando exageros.
Ainda vale aquela velha dica de fazer do seu prato um arco-íris, com uma alimentação bem variada em vegetais e menos carne vermelha.
— A carne não é proibida, mas ela não deve ser o elemento principal da refeição, e sim o acompanhamento. Devemos valorizar cada vez mais a proteína vegetal, como feijões, grão-de-bico, lentilha, ervilha. Não existem alimentos proibidos, mas precisamos ter consciência ao escolher — ensina Guimarães.
2. Atividade física
Não há dúvidas de que a prática regular de atividades físicas é essencial para manter o corpo saudável e prevenir uma série de problemas. O exercício também é fundamental no tratamento de doenças, pois ajuda a controlar o peso, melhora a saúde cardiovascular, aumenta a força muscular e a flexibilidade, além de beneficiar a saúde mental, reduzindo os níveis de estresse e promovendo o bem-estar emocional.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda fazer pelo menos 150 minutos de exercícios de intensidade moderada por semana – aquela em que você consegue falar, sem ficar ofegante. Se for uma atividade intensa, a prática pode ser de 75 minutos semanais.
Outro detalhe é fazer, pelo menos duas vezes por semana, atividades de força/resistência, como a musculação.
— A saúde dos músculos é importante tanto para prevenir dor quanto para manter a autonomia funcional. Quando trabalhamos bem os músculos, liberamos substâncias importantes para manter a saúde do cérebro e prevenir demências, por exemplo — observa a médica.
Além disso, a prática de exercícios reduz o tempo sentado, fator de risco para diversas doenças.
— Não adianta nada fazermos um treino forte na academia por uma hora no dia e depois passarmos o dia todo sentados. Isso é um comportamento de risco. Nosso corpo foi programado para se movimentar; o anormal é o quão sedentário somos hoje em dia — pontua Sley Guimarães.
3. Sono de qualidade
O sono desempenha um papel crucial na recuperação e no funcionamento adequado do organismo. A falta dele pode levar a uma série de problemas, incluindo dificuldade de concentração, aumento do risco de doenças cardíacas, diabetes, depressão e obesidade.
— O sono não foi feito apenas para o corpo descansar. Quando dormimos, muitas coisas importantes acontecem, como o controle da pressão arterial, reparos no coração, controle do açúcar no sangue, entre outras ações — explica Guimarães.
Esse período de descanso também está associado à melhora do sistema imunológico — pessoas com privação de sono, por exemplo, tendem a ter quadros de saúde piores quando adoecem. Dormir mal também impacta o humor, afeta o raciocínio e a capacidade de fazer boas escolhas. Além disso, em qualquer idade, o sono insuficiente aumenta o risco de depressão.
Manter uma rotina regular de descanso noturno, garantir um ambiente tranquilo e livre de interrupções, além adotar práticas que promovam o relaxamento antes de dormir, são maneiras eficazes de melhorar a qualidade do sono e, consequentemente, a saúde geral.
— Vale lembrar que a atividade física também pode ajudar nisso — destaca a médica do Einstein.
4. Gestão do estresse
Pode parecer estranho, mas o estresse é essencial para nossa vida. Isso porque ele se manifesta sempre que nosso corpo precisa se adaptar a uma situação diferente – o primeiro evento estressor que vivemos, por exemplo, é o momento do parto e a consequente necessidade de adaptação ao ambiente fora do útero materno
— Ao longo da vida, o estresse é importante para termos a atenção necessária para resolver as coisas. Se temos menos estresse, ficamos entediados — diz Guimarães.
Hoje em dia, porém, temos de lidar com uma quantidade de estresse muito maior do que o corpo consegue. E o estresse crônico é prejudicial por ser fator de risco para uma série de doenças físicas e psicológicas, como hipertensão, doenças cardíacas, depressão e ansiedade.
— Aqui entra o papel do profissional de saúde que vai buscar entender o momento de vida daquela pessoa. Não é na hora do evento estressor que temos os sintomas, eles podem aparecer tempos depois. Quando começamos a investigar, muitas vezes fazemos a associação com o estresse — relata a médica.
A partir do momento em que outros possíveis de diagnóstico são excluídos, é importante tratar o estresse. O tratamento pode ser medicamentoso, mas adotar práticas como meditação, mindfulness (atenção plena), atividade física e medidas de relaxamento, como hobbies e o contato com a natureza, pode reduzir os efeitos prejudiciais do estresse.
5. Conexões sociais
Manter relações interpessoais saudáveis tem um impacto significativo na saúde física e mental – especialmente para as pessoas mais velhas. Estudos mostram que a conexão social auxilia no controle do estresse e ajuda no suporte emocional, por exemplo. Além disso, indivíduos com uma rede social sólida tendem a viver mais e com melhor qualidade.
— A sensação de solidão equivale a fumar de 10 a 15 cigarros por dia, de tão ruim que é para a saúde — conta Guimarães.
São essas relações mais significativas que promovem a sensação de pertencimento, felicidade e propósito na vida. Ter amizades próximas, interagir com a família e participar de atividades sociais são hábitos fundamentais para um envelhecimento saudável e uma vida equilibrada.
6. Controle do álcool e tabaco
O último pilar da medicina do estilo de vida envolve a prevenção de comportamentos que podem prejudicar a saúde, como o consumo excessivo de álcool, o tabagismo e o uso de substâncias ilícitas.
— Não há dúvidas de que o tabaco é extremamente tóxico e está relacionado a vários tipos de câncer e problemas cardiovasculares. Há vários profissionais habilitados e medicações que ajudam a parar de fumar — afirma Guimarães.
Já reduzir a ingestão de álcool é mais complexo, porque o consumo de bebidas alcoólicas é cultural e está associado a momentos de diversão, comemoração e prazer. Mas a bebida está ligada a pelo menos sete tipos de câncer e, ainda assim, as pessoas não fazem essa correlação de maneira óbvia, como acontece com o cigarro.
— Não é um discurso moralista, mas não existe dose mínima segura de álcool que a gente possa recomendar para um paciente. E não ter uma recomendação mínima não significa que deva ser proibido — frisa a especialista.
Evitar ou reduzir esses hábitos contribui para a longevidade e a melhoria da qualidade de vida.
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