Produtores do RS cobram aprovação da securitização das dívidas no Congresso Nacional
Desde 2020, o Rio Grande do Sul perdeu 40,6 milhões de toneladas de grãos devido a eventos climáticos extremos, um impacto financeiro de R$ 117 bilhões

Produtores rurais de todos os tamanhos no Rio Grande do Sul deram um ultimato ao Congresso Nacional: até o dia 1º de maio, exigem a aprovação dos projetos de lei que tratam da securitização das dívidas do setor agrícola. Caso a demanda não seja atendida, os agricultores prometem ir às ruas para pressionar os parlamentares. O alerta foi feito na última sexta-feira (14/03), durante o Ciclo de Palestras e Debates do Senado Federal, que aconteceu na Expodireto Cotrijal.
Em um esforço conjunto, o agronegócio transferiu a responsabilidade para o Congresso, deixando claro que, se o governo federal vetar os projetos, ele se tornará o principal alvo das críticas. O senador Luis Carlos Heinze (PP/RS), principal articulador do encontro e autor do PL 320/2025, pediu um tom conciliador nas negociações com a classe política e o governo federal, em busca de uma solução definitiva para a grave crise de endividamento do setor.
— Governos não agem, reagem à pressão. Os produtores têm contas vencendo e precisamos de um prazo até a aprovação do PL — disse.
Durante o evento, o economista-chefe da Farsul, Antonio da Luz, apresentou dados alarmantes sobre a crise enfrentada pelo setor. Desde 2020, o Rio Grande do Sul perdeu 40,6 milhões de toneladas de grãos devido a eventos climáticos extremos, um impacto financeiro de R$ 117 bilhões.
— Somente com a soja, foram mais de 10 milhões de toneladas perdidas, e a economia do estado deixou de gerar R$ 319,2 bilhões em PIB, o que representa 49% do PIB de 2023. E nem estamos considerando as perdas da atual safra, que já chegam a 9,3 milhões de toneladas — explicou da Luz.
No evento, diversos participantes assinaram um documento de apoio à proposta. Heinze reiterou a necessidade de uma pressão contínua sobre o governo para garantir uma solução que prorrogue o pagamento das dívidas dos produtores por mais tempo. O deputado federal Pedro Westphalen, também do PP/RS e autor do PL 341/2025 na Câmara dos Deputados, reforçou a importância de unir forças para criar uma base de apoio sólida e garantir a aprovação dos projetos.
O evento, que contou com um auditório lotado e uma grande concentração de pessoas nas áreas externas, destacou a união do agronegócio em torno da causa comum dos produtores, sejam grandes, médios ou pequenos. A presença também de agricultores assentados pela reforma agrária demonstrou que o movimento é apartidário e busca soluções para todos os setores do campo.
Nei César Mânica, presidente da Cotrijal, comentou sobre as dificuldades enfrentadas pelos produtores:
— Em cinco anos, enfrentamos três secas, duas enchentes e agora, outra estiagem. E a dívida do produtor está nos bancos, nas cooperativas, nas cerealistas e nas indústrias. Enquanto se fala em uma grande safra nacional, a situação no Rio Grande do Sul é bem diferente — declarou.
O deputado federal Heitor Schuch (PSB/RS), presidente da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar, e Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag-RS, também enfatizaram a importância da securitização das dívidas, mas destacaram a necessidade de revisões no Proagro e no seguro rural.
— O problema do produtor rural é um problema de toda a sociedade. Cada quilo de alimento não produzido significa um emprego a menos. As entidades estão alinhadas para que a securitização seja feita com prazos de até 20 anos, juros compatíveis e um seguro e Proagro decentes, para que não precisemos mais lutar por securitização — afirmou Silva.
Ao final do encontro, uma carta foi assinada por parlamentares federais e estaduais, pelo vice-governador Gabriel de Souza, e por representantes do agronegócio. O documento será encaminhado aos Ministérios da Fazenda, da Agricultura e do Desenvolvimento Rural e Reforma Agrária, com um pedido de reunião na próxima semana para discutir as soluções para a crise.
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