A crônica falta de estrutura nas escolas: um problema que vai além do calor
Desigualdade expõe uma falha sistêmica: a educação pública ainda não foi priorizada como deveria em um contexto de emergência climática
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Marcelo Noronha*
A recente decisão do governador Eduardo Leite de não adiar o início das aulas, mesmo diante das altas temperaturas que têm castigado o Rio Grande do Sul, teve um revés no domingo, 09/02/2025, por determinação através de uma liminar concedida ao Cpers, que pede o adiamento do início do ano letivo, alegando o calor fora da curva que assola o estado.
Mas o debate, que vai muito além da questão climática ou do calor, por mais intenso que seja, não pode estigmatizar o calor como o vilão dessa história. O cerne do problema está na falta de estrutura das escolas para lidar com os efeitos das mudanças climáticas, um desafio global que exige adaptações locais urgentes.
Nos últimos anos, as mudanças climáticas têm alterado padrões meteorológicos, resultando em verões mais quentes e prolongados. No entanto, a incapacidade de muitas escolas de oferecer um ambiente adequado para alunos e professores enfrentarem essas condições extremas é um reflexo de um problema estrutural crônico. A falta de ventilação adequada, a inexistência de sistemas de refrigeração e a precariedade de recursos básicos, como o sombreamento, transformam as salas de aula em ambientes hostis, especialmente durante picos de calor.
A decisão do governador, alinhada com a necessidade de manter o calendário escolar, ignora a realidade enfrentada por muitas instituições de ensino. Enquanto escolas particulares e algumas unidades públicas mais bem equipadas conseguem mitigar os efeitos do calor com ar-condicionado, ventiladores e projetos arquitetônicos adaptados, várias escolas estaduais operam em condições precárias. Essa desigualdade expõe uma falha sistêmica: a educação pública ainda não foi priorizada como deveria em um contexto de emergência climática.
A negativa de adiar o início das aulas poderia ser vista como uma decisão pragmática se fosse acompanhada de medidas concretas para melhorar a infraestrutura das escolas. No entanto, sem investimentos significativos em reformas, tecnologias de climatização e políticas públicas que considerem os impactos das mudanças climáticas, a decisão parece desconectada da realidade vivida por milhares de gaúchos.
O momento exige mais do que respostas pontuais e não apenas a discussão ou a litigância para definir o início do ano letivo. É necessário um planejamento de longo prazo que inclua a adaptação das escolas aos novos desafios impostos pelo aquecimento global. Isso envolve não apenas a instalação de equipamentos de refrigeração, mas também a construção de prédios mais sustentáveis, a capacitação de gestores para lidar com crises climáticas e a conscientização da comunidade escolar sobre os riscos e cuidados necessários.
Enquanto isso, a decisão do governador serve como um alerta: o calor é apenas um sintoma do problema maior. A falta de estrutura nas escolas para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas é uma realidade que precisa ser enfrentada com urgência. Ignorar essa questão é comprometer não apenas o presente, mas também o futuro de milhares de estudantes que dependem da educação pública para construir suas vidas. O calor vai passar, mas a necessidade de investir em uma educação resiliente e adaptada às novas realidades do planeta permanecerá.
(*) Marcelo Noronha é estudante de Jornalismo
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