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São Jerônimo, RS, 05/02/2025

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‘Em 30 anos, devemos repetir maio de 2024’, diz pesquisador da UFRGS que participou de expedição à Antártica

Pesquisadores apresentaram primeiros dados da Expedição Internacional que percorreu a Antártica por 70 dias, coletando amostras e realizando estudos sobre os impactos das mudanças climáticas

Força Aérea / Divulgação
 ‘Em 30 anos, devemos repetir maio de 2024’, diz pesquisador da UFRGS que participou de expedição à Antártica Elevação do nível do mar e a intensificação dos ciclones extratropicais são as principais ameaças
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Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apresentaram, nesta segunda-feira (3/02), os primeiros dados da Expedição Internacional de Circum-navegação Costeira Antártica (ICCE), que percorreu a Antártica por 70 dias, coletando amostras e realizando estudos sobre os impactos das mudanças climáticas. Durante a coletiva realizada no Centro Cultural da UFRGS, os cientistas alertaram sobre os efeitos das mudanças climáticas no planeta e os riscos de eventos climáticos extremos nos próximos anos, com previsões alarmantes para a cidade de Porto Alegre.

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O climatologista Francisco Aquino, que participou da expedição, projetou que, em 30 anos, Porto Alegre poderá enfrentar um evento semelhante ao que ocorreu em maio de 2024, quando a cidade foi devastada por uma forte enchente. Segundo Aquino, a elevação do nível do mar e a intensificação dos ciclones extratropicais são as principais ameaças, afetando diretamente o litoral do Rio Grande do Sul. O pesquisador explicou que a relação entre o aquecimento global e os fenômenos climáticos extremos tem se tornado cada vez mais evidente, e que a intensificação dessas condições impactará a região costeira de maneira significativa.

— Em 30 anos, devemos repetir maio de 2024 — afirmou Aquino.

O climatologista afirmou que a cidade poderá enfrentar um evento climático extremo de grandes proporções, como as chuvas torrenciais que causaram a inundação devastadora no ano passado, caso o ritmo das mudanças climáticas continue sem interrupções.

O professor Jefferson Cardia Simões, coordenador-geral da expedição, detalhou o impacto das mudanças climáticas nas geleiras da Antártica. Ele destacou que o derretimento das geleiras e a expansão térmica dos oceanos resultam em um aumento do nível do mar, que pode superar 1 metro até 2100. Para ele, o risco de submersão de áreas costeiras, como Porto Alegre, está se tornando uma realidade cada vez mais próxima, com a Antártica sendo uma das maiores responsáveis por esse processo.

— Porto Alegre ficará submersa — alertou Simões, referindo-se ao impacto direto que o derretimento das geleiras pode ter sobre a geografia da região. Ele também mencionou a situação crítica da geleira Thwaites, conhecida como a "geleira do Juízo Final", que está derretendo rapidamente. O colapso dessa geleira poderia resultar em uma elevação catastrófica do nível do mar.


Pesquisadores coletam material na Antártica  | Foto: ICCE / Anderson Astor e Marcelo Curia

Outro dado alarmante obtido durante a expedição foi a descoberta de microplásticos nas amostras de neve coletadas no continente gelado. O pesquisador Filipe Lindau explicou que a alta taxa de consumo e descarte de plásticos no mundo fez com que resíduos plásticos fossem transportados para longas distâncias pelos oceanos e ventos, chegando até a Antártica. Além disso, os compostos químicos provenientes das queimadas na Amazônia também foram detectados na neve, o que evidencia a interconexão entre eventos climáticos distantes, como as queimadas no Brasil, e os impactos globais nas regiões mais remotas do planeta.

— Grande parte do que chega à Antártica se dá pelas correntes marítimas e pelos ventos sobre o oceano. Durante esta expedição, coletamos amostras em locais mais remotos, e agora vamos analisar o material para entender como o microplástico tem evoluído nos últimos anos — explicou Lindau.

Simões também comentou sobre as mudanças no Oceano Austral, que, além de se tornar mais ácido, está perdendo salinidade devido ao contato com a água de derretimento das geleiras. Isso está comprometendo sua capacidade de absorver dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa. Essa alteração tem o potencial de acelerar ainda mais o aquecimento global, afetando negativamente os ecossistemas marinhos.

— Esses oceanos, ao absorverem CO2, funcionam como um tampão climático. Porém, com o aumento da acidez, essa capacidade de absorção está sendo perdida — explicou Simões.

Ao longo da expedição, que contou com 57 pesquisadores de sete países — incluindo Brasil, Argentina, Chile, China, Índia, Peru e Rússia —, foram coletados mais de 90 metros de testemunhos de gelo e 6 metros de testemunhos de sedimentos. Os dados obtidos vão fornecer uma visão mais abrangente sobre os impactos das mudanças climáticas no continente gelado e em todo o planeta. A coleta de amostras incluiu análises da temperatura, salinidade e acidez do Oceano Austral, além da realização de 43 lançamentos de balões atmosféricos para medir a dinâmica atmosférica em diferentes altitudes.

A reitora da UFRGS, Márcia Barbosa, ressaltou a importância das políticas públicas e da atuação coletiva para enfrentar as mudanças climáticas. Ela destacou que o Brasil é um dos maiores emissores de gases poluentes, com destaque para as queimadas e os impactos da agricultura e pecuária. Para mudar essa realidade, ela defendeu ações de combate ativo às queimadas e a implementação de práticas agrícolas de baixo carbono. Além disso, chamou a atenção para a importância da conscientização da sociedade para adotar hábitos mais sustentáveis no cotidiano.

— No micro, cada cidadão pode reconhecer que é preciso mudar o patamar do que fazemos no dia a dia, como separar o lixo, e políticas públicas de transição são necessárias — afirmou Barbosa, sugerindo que ações coletivas e mudanças de comportamento individual são essenciais para frear o aquecimento global.

O aumento do nível do mar foi um dos pontos mais discutidos pelos pesquisadores, especialmente no que se refere à sua influência nas regiões costeiras, como o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A pesquisadora Venisse Schossler explicou que o nível do mar nas costas gaúchas aumentou 12 cm nos últimos 10 anos, o que tem gerado preocupação com o futuro de áreas como Porto Alegre, que está localizada em uma planície costeira. Ela destacou ainda o aumento da intensidade dos ventos e a possibilidade de ressacas mais fortes, que são alimentadas por ciclones extratropicais, fenômenos que podem ser mais frequentes nos próximos anos devido ao aquecimento global.

— A questão costeira sofrerá, e é preciso lembrar que Porto Alegre está, geograficamente, na planície costeira — frisou Schossler.

Para Simões, a Antártica, atualmente responsável por menos de 10% do aumento do nível do mar, deverá se tornar o principal contribuidor desse aumento nas próximas décadas, pois as geleiras tropicais estão derretendo rapidamente. O pesquisador afirmou que as consequências desse processo são irreversíveis e terão grandes impactos nas praias, portos e defesas costeiras em todo o mundo.

— Está claro que não há volta. As geleiras dos trópicos estão derretendo com alta velocidade, e isso terá um grande impacto nas nossas praias e na infraestrutura costeira — alertou Simões.

Para os pesquisadores, a transição para uma matriz energética renovável e menos poluente, juntamente com políticas públicas que incentivem a preservação ambiental e a redução das emissões de carbono, são fundamentais para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Além disso, ações individuais, como o controle do consumo e a melhoria do descarte de resíduos, especialmente plásticos, também são essenciais para conter o aquecimento global.

— Se conseguirmos proteger áreas de nascentes, margens de rios e implementar legislações ambientais adequadas, conseguiremos evitar que o Brasil continue sendo líder em desmatamento e queimadas. Isso ajudaria a refrear os extremos climáticos e a proteger nosso futuro — concluiu Aquino.

Os dados da expedição, que foram coletados por meio de instrumentos sofisticados e amostras de gelo e sedimentos, representarão um importante avanço na pesquisa sobre as mudanças climáticas e seus efeitos no planeta. A expedição, além de trazer um importante aprendizado para a ciência global, também simboliza a crescente liderança do Brasil nas pesquisas sobre a Antártica e as mudanças climáticas.


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