Dengue: saiba por que o tipo 3 é motivo de preocupação em 2025
Baixa circulação dessa cepa nos últimos anos pode deixar a população mais vulnerável à infecção neste ano, o que também tem potencial de causar quadros mais graves
Gabriela Cupani
Agência Einstein
O sorotipo 3 da dengue já responde por quase metade dos casos registrados em 2025 no Brasil. E isso vem gerando preocupação entre os especialistas pelo risco de causar mais infecções e quadros graves da doença.
Existem quatro subtipos de vírus causadores da dengue. Desde 2008, o tipo 3 circula no país em baixíssima frequência (menos de 2% dos casos). Mas essa proporção vem aumentando: em 2024, foram confirmados 116.600 casos do tipo 1, 24.300 do tipo 2 e 2.192 do 3, segundo o monitoramento do Ministério da Saúde em amostras sequenciadas. Neste ano, já foram confirmados 10 casos do sorotipo 1, 184 do sorotipo 2 e 138 do sorotipo 3. O tipo 4 é muito raro.
— A circulação é marcada por ciclos de predominância de alguns sorotipos do vírus e, quando um entra em circulação, gera uma maior imunidade específica contra ele na população. Quando a circulação de um sorotipo é baixa, o oposto ocorre, e vemos uma queda na imunidade para aquele tipo viral — explica o virologista Anderson Brito, do Instituto Todos pela Saúde (ITpS), que faz o monitoramento da circulação de diversos patógenos no país a partir de dados de laboratórios públicos e privados.
A circulação do tipo 3 preocupa porque ele praticamente não circulava há muito tempo no Brasil.
— Há uma grande parcela da população que não teve contato com ele e, portanto, pode haver aumento no número de casos e também de casos graves — diz a infectologista Emy Akiyama Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Quando uma pessoa é infectada por um vírus da dengue, seu organismo desenvolve anticorpos específicos e ela fica imunizada apenas contra a cepa causadora da infecção. Se houver uma nova infecção por um tipo diferente, essa imunidade pode ter efeito contrário: em vez de barrar, facilitar a entrada do vírus no organismo, fenômeno que gera uma resposta inflamatória exagerada. Daí porque a reinfecção é um fator de risco para casos graves.
Segundo projeções do ITpS, os números da doença devem seguir uma trajetória ascendente até meados de abril – uma curva similar à do ano de 2022.
— O ciclo 23-24 foi muito atípico, com uma explosão de casos antes do início do ano, ainda em novembro de 2023. Muito em função do fenômeno El Niño, que trouxe mais chuvas e temperaturas mais altas que favoreceram a proliferação do mosquito — explica Brito.
Até o último dia 23 de janeiro, foram registrados 101.485 casos prováveis de dengue e 15 mortes, sendo que outros 116 óbitos estão em investigação, segundo o Ministério da Saúde. Os números estão abaixo do registrado no ano passado: nesse mesmo período, já havia quase 200 mil casos. No entanto, os dados de 2025 estão superiores aos de 2023, que não chegaram a 50 mil nos primeiros 22 dias do ano.
Por isso, é importante intensificar medidas de prevenção, como uso de repelente e combate aos criadouros de mosquito. A vacina está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) apenas para crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos, em localidades prioritárias selecionadas a partir do cenário epidemiológico do país.
Embora seja desenvolvido para combater os quatro tipos, o imunizante tem uma resposta maior contra os tipos 1 (quase 70%) e 2 (quase 95% de eficácia). Para o tipo 3, a resposta é moderada, com cerca de 49% de eficácia. Em relação ao 4 ainda não há dados suficientes para avaliar.
Sintomas da dengue
A infecção pela dengue pode ser assintomática, mas nos casos em que há sintomas a primeira manifestação costuma ser febre alta (acima de 38°C), de início súbito, que dura de dois a sete dias.
Outros sintomas comuns são:
- Dor no corpo e articulações;
- Dor atrás dos olhos;
- Mal-estar;
- Falta de apetite;
- Dor de cabeça;
- Manchas vermelhas no corpo.
A fase crítica começa com o declínio da febre, entre o terceiro e o sétimo dia após o início dos sintomas. É nesse período que podem ocorrer os sinais de alarme: dor abdominal intensa e contínua, náusea, vômitos persistentes, sangramento das mucosas, além de hipotensão, letargia, entre outros.
Não há tratamento específico para a dengue. Deve-se fazer reposição de líquidos e repouso e nunca se automedicar. Em caso de algum sinal de alarme, procure atendimento médico com urgência.
No início de janeiro, o Ministério da Saúde instalou o Centro de Operações de Emergências em Saúde (COE) para ampliar o monitoramento das arboviroses no Brasil, incluindo a dengue, com o objetivo de fortalecer a capacidade de resposta do país.
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