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São Jerônimo, RS, 18/12/2024

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Após polêmica, Assembleia do RS homenageia líder do MST João Pedro Stédile

Após polêmica, Assembleia do RS homenageia líder do MST João Pedro Stédile

Marcelo Oliveira / ALRS
Após polêmica, Assembleia do RS homenageia líder do MST João Pedro Stédile Adão Pretto, João Pedro Stédile e Pepe Vargas
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Após semanas de controvérsia, João Pedro Stédile, economista gaúcho e coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), recebeu na tarde desta segunda-feira (16/12) a Medalha do Mérito Farroupilha, a maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. A homenagem, proposta pelo deputado Adão Pretto Filho (PT), foi destinada a celebrar os 40 anos de luta e mobilização do MST, movimento que, desde sua criação, tem sido um dos principais defensores da reforma agrária e da justiça social no Brasil.

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A cerimônia, realizada no plenário da Assembleia, foi marcada por um grande simbolismo e mobilização. A medalha foi entregue ao líder do MST pelo deputado Pepe Vargas, que representou a presidência da Casa Legislativa. Durante o evento, também foi lida uma carta enviada ao MST pela Associação de Juízes e Juízas pela Democracia, em apoio às suas ações e à luta pela reforma agrária. A honraria é vista como um reconhecimento da trajetória de Stédile e do movimento em defesa dos direitos dos trabalhadores rurais, da distribuição de terra e da promoção de políticas públicas voltadas para o campo.

O deputado Adão Pretto Filho, autor da proposta de concessão da medalha, destacou que a entrega da Medalha do Mérito Farroupilha a João Pedro Stédile simboliza não apenas um reconhecimento à sua liderança, mas também à luta incessante do MST por justiça social e pelo cumprimento da função social da terra.
— Essa medalha é um tributo à história de lutas sociais, que não só marcou a vida de Stédile, mas também de milhares de pessoas no Brasil e no mundo que acreditam que a reforma agrária é essencial para um país mais justo e solidário. — afirmou Pretto.

Em sua fala, o deputado enfatizou que o MST tem se consolidado, ao longo dos anos, como um dos maiores produtores agroecológicos da América Latina. Pretto também trouxe à tona dados que demonstram a importância do movimento para a produção de alimentos e o desenvolvimento das comunidades rurais.
— No Rio Grande do Sul, por exemplo, o MST assentou mais de 13 mil famílias, e, no Brasil, são mais de 400 mil famílias em situação de assentamento, promovendo o desenvolvimento e a produção de alimentos saudáveis. — destacou. O deputado também se referiu a exemplos de sucesso como as glebas Macali e Brilhante, em Ronda Alta, onde o movimento transformou terras antes improdutivas em áreas altamente produtivas, com um aumento expressivo na produção de grãos e alimentos.
— Em 2021, colhiam 142 mil sacas de soja, 42 mil de milho, 48 mil de trigo e duas mil de feijão. Sem contar 1,5 milhão de litros de leite/ano, 984 mil aves e três mil porcos. O nome disso é função social da propriedade, e está na Constituição. — completou.

João Pedro Stédile, ao receber a honraria, ressaltou que a medalha não era um prêmio pessoal, mas uma celebração do MST e de sua missão histórica.
— Essa medalha não é para mim. É para o MST. Eu apenas fui escolhido para representar a luta de milhares de trabalhadores rurais que, ao longo dos anos, têm enfrentado desafios para garantir o direito à terra e a dignidade no campo. — afirmou Stédile. Ele ainda recordou momentos históricos do movimento e a trajetória de lutas por direitos no Brasil, mencionando figuras como Sepé Tiaraju, herói indígena que lutou contra o processo de colonização, e Ithamar Siqueira, militante falecido recentemente, em uma homenagem póstuma àqueles que dedicaram suas vidas à luta por justiça social.

Além de sua importância para a reforma agrária, Stédile também mencionou o papel do MST em momentos críticos da história recente do Brasil, como a pandemia de Covid-19. Durante esse período, o movimento se destacou pela solidariedade, distribuindo toneladas de alimentos aos mais necessitados.
— Na pandemia, o MST foi uma das organizações que mais se dedicou a combater a fome. Doamos mais de 853 toneladas de alimentos só em 2020, e nos momentos de crise, como nas enchentes, estávamos presentes, levando alimentos e apoio às comunidades atingidas. — recordou. Ações de solidariedade como essas também foram reconhecidas por líderes internacionais, incluindo o Papa Francisco, que agradeceu formalmente ao MST pela contribuição à luta contra a fome.

Por sua vez, o deputado Pepe Vargas, ao representar a presidência da Assembleia Legislativa, enfatizou que o Parlamento gaúcho sempre foi um espaço democrático onde todos os movimentos sociais têm voz.
— A Assembleia do Rio Grande do Sul sempre foi um espaço democrático e plural, onde a diversidade de opiniões e lutas sociais é respeitada. Não poderia ser diferente com o MST, que ao longo dos anos tem se destacado na luta pela reforma agrária e pelos direitos do povo. — disse Vargas. Ele também lembrou que a Assembleia Legislativa do estado tem sido um ponto de apoio para a aprovação de medidas que buscam promover justiça social, e que os movimentos sociais, como o MST, desempenham um papel fundamental nesse processo.


Polêmica e tentativas de obstrução

A concessão da Medalha do Mérito Farroupilha a João Pedro Stédile, que inicialmente foi aprovada por unanimidade pela Mesa Diretora da Assembleia Legislativa em fevereiro deste ano, acabou gerando uma polêmica meses depois, quando uma parte dos deputados estaduais, especialmente os de orientação mais conservadora, passou a se opor à homenagem. O deputado estadual Capitão Martim (Republicanos), por exemplo, coordenou um abaixo-assinado para revogar a decisão, que contou com mais de 25 mil assinaturas. Além disso, houve tentativas de levar o caso de volta à Mesa Diretora da Assembleia, na tentativa de barrar a entrega da medalha.

No entanto, a proposta já havia sido analisada e aceita pela Mesa Diretora, que é composta por parlamentares de diferentes orientações ideológicas e, de acordo com o regimento interno, uma vez aprovada, não pode ser revista. Assim, apesar das tentativas de impedir a homenagem, a Medalha do Mérito Farroupilha foi entregue a João Pedro Stédile como reconhecimento à sua luta pela reforma agrária e pela construção de uma sociedade mais justa e solidária.

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