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São Jerônimo, RS, 14/11/2024

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Após enchentes, 40% das pessoas ainda tem ansiedade e depressão, aponta pesquisa

Estudo monitora problemas de saúde mental provocados pelas enchentes de maio no Rio Grande do Sul

Bruno Peres / Agência Brasil
Após enchentes, 40% das pessoas ainda tem ansiedade e depressão, aponta pesquisa O levantamento começou logo após as enchentes, em maio, e tem como objetivo acompanhar a evolução dos problemas de saúde mental ao longo do tempo
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Uma pesquisa realizada pela professora Simone Hauck, do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e da Pós-Graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento da UFRGS, revelou que, após os efeitos das enchentes de maio de 2024, 40% das pessoas ainda apresentam sintomas de ansiedade, depressão e transtorno pós-traumático (TEPT), mais de 60 dias após o desastre. Embora a pesquisa mostre uma diminuição dos sintomas ao longo do tempo, o estudo aponta que os efeitos psicológicos das cheias ainda são significativos.

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A pesquisa, que acompanha a saúde mental da população afetada pelas enchentes, foi realizada com base em 3.882 questionários respondidos online entre 8 de julho e a data atual. O levantamento começou logo após as enchentes, em maio, e tem como objetivo acompanhar a evolução dos problemas de saúde mental ao longo do tempo.

Sintomas de ansiedade e depressão

O estudo constatou que os casos de ansiedade e depressão, que haviam aumentado logo após as enchentes, continuam presentes, embora em menor intensidade. Até 30 dias após o desastre, os sintomas de ansiedade atingiram 46% dos entrevistados e os de depressão, 43%. Esses números caíram para 40% e 41%, respectivamente, 60 dias depois.

Sintomas de ansiedade (3665 respostas):

  • Até 30 dias: 46%
  • 30 a 59 dias: 52%
  • Mais de 60 dias: 40%

Sintomas de depressão (3745 respostas):

  • Até 30 dias: 43%
  • 30 a 59 dias: 52%
  • Mais de 60 dias: 41%

Simone Hauck observa que, apesar da diminuição, o número de pessoas que ainda apresentam esses sintomas continua elevado, indicando que a recuperação emocional dos atingidos pelas enchentes é um processo demorado.

Transtorno Pós-Traumático (TEPT)

O transtorno pós-traumático (TEPT) é um dos efeitos psicológicos mais comuns após situações de desastre, mas também o mais subdiagnosticado. De acordo com a pesquisa, os sintomas de TEPT diminuíram de 43% para 31% entre os 30 a 59 dias e os mais de 60 dias após a catástrofe, uma queda de 40%. Entretanto, a autora destaca que a "evitação", um dos sintomas típicos do TEPT, permaneceu em níveis altos, o que pode prejudicar a recuperação completa dos afetados.

Sintomas de TEPT (2330 respostas):

  • 30 a 59 dias:

    • Evitação: 16,3%
    • Desrealização: 36,1%
    • Revivência: 18,8%
    • Cognição/humor: 14,7%
    • Hiperexcitabilidade: 17,3%
  • Mais de 60 dias:

    • Evitação: 15,7%
    • Desrealização: 47,8%
    • Revivência: 15,7%
    • Cognição/humor: 12,5%
    • Hiperexcitabilidade: 14,4%

Fatores de risco para o TEPT

A pesquisa também identificou os principais fatores de risco para o desenvolvimento de TEPT. O fator mais relevante foi a percepção de que a pessoa necessitou de apoio psicológico, mas não foi atendida. Além disso, a exposição direta à tragédia e a situação econômica também influenciaram o aparecimento de sintomas, sendo que pessoas com renda mensal de até R$ 3.000 correm mais risco de desenvolver o transtorno.

Estratégias de enfrentamento

Simone Hauck ressalta que a resposta das pessoas ao desastre é comum, e a chave para a recuperação está no enfrentamento das dificuldades, o que pode ser facilitado pela presença de uma rede de apoio sólida. Ela afirma que, em situações como essas, a resiliência comunitária e a informação sobre como lidar com os sintomas são fundamentais para reduzir os impactos negativos na saúde mental.

"Quanto mais cedo as pessoas enfrentarem os sintomas, maior a chance de se restabelecerem", destaca a pesquisadora. Ela alerta, contudo, que, após um ano do início dos sintomas, a recuperação se torna mais difícil.

A pesquisa ainda está em andamento e seguirá acompanhando os impactos das enchentes sobre a saúde mental da população gaúcha, com a expectativa de que os dados ajudem a orientar futuras ações de apoio psicológico e social.

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