Opinião | Eventos extremos: falta debate
A falta de governança, de infraestrutura e de capacitação expõe de forma contundente a necessidade urgente de fortalecer os sistemas de proteção e defesa civil
Marcos Leandro Kazmierczak (*)
Em plena época de campanha eleitoral e após mais de três meses dos eventos extremos iniciados em abril de 2024, sinto a necessidade de destacar a ausência de debates municipais sobre esses eventos, a carência de governança, infraestrutura e capacitação. O impacto desses eventos em mais de 470 municípios gaúchos evidenciou a urgência de fortalecer os sistemas de proteção e defesa civil. A falta de debate sobre o assunto revela um cenário preocupante e demanda ações coordenadas e participativas. A relevância desse debate pode ser observada em diversos aspectos:
– Fortalecimento da governança local: A participação ativa da sociedade civil, especialistas e setores da administração pública é crucial para criar políticas públicas eficazes e adequadas às realidades locais. A troca de experiências e a identificação de lacunas nas ações governamentais são essenciais para a elaboração de planos de contingência, algo que a maioria dos municípios ainda não possui.
– Conscientização da população: A conscientização sobre os riscos climáticos é vital para incentivar a adoção de medidas preventivas e a participação ativa na gestão de riscos. Uma população informada e engajada ajuda a reduzir a vulnerabilidade social e a minimizar os impactos de eventos extremos.
– Mobilização de recursos: Os debates podem facilitar a mobilização de recursos financeiros e técnicos ao nível local, estadual e federal. Identificar as necessidades específicas de cada município ajuda na busca por parcerias e na alocação de recursos para infraestrutura, equipamentos e capacitação. Sem um diagnóstico da situação, é difícil determinar as necessidades reais de um município.
– Adaptação às mudanças climáticas: Com a frequência crescente de eventos climáticos extremos, é essencial discutir medidas de adaptação às mudanças climáticas. Planos de ação que incluam gestão de riscos, infraestrutura resiliente e educação climática são fundamentais para garantir a segurança e o bem-estar da população. A prevenção deve ser uma prioridade.
Garantir a inclusão de todos os segmentos da população, especialmente os mais vulneráveis, é essencial. Embora muitos municípios enfrentem dificuldades financeiras para investir em proteção e defesa civil, a busca por financiamento e a otimização dos recursos existentes são desafios a serem superados. A questão não é a falta de recursos, mas a necessidade de projetos bem estruturados.
Ao promover a participação da sociedade civil, fortalecer a governança local e investir em medidas de adaptação às mudanças climáticas, os municípios podem reduzir significativamente os impactos de eventos extremos e garantir a qualidade de vida de sua população. Contudo, isso requer um debate amplo e uma articulação eficaz, tanto dentro quanto fora dos municípios.
(*) Marcos Leandro Kazmierczak é Engenheiro Florestal (UFSM), Mestre em Sensoriamento Remoto (INPE), Doutor em Eventos Extremos (UNESP/CEMADEN), e Especialista em modelagem espacial e simulação de cenários climáticos futuros. Atua como Especialista Sênior no Projeto de Concepção do Arranjo Institucional e Operacional para Gestão de Risco de Desastres no Estado do Rio de Janeiro (Banco Mundial/SEPLAG-RJ) e Coordenador do GT6 - Ordenamento Territorial, da Rede de Emergência Climática e Ambiental do Rio Grande do Sul (UFRGS). Artigo publicado originalmente no site sler.com.br.
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