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São Jerônimo, RS, 14/09/2024

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Alimentos pró-inflamatórios aumentam risco de doenças periodontais, conclui estudo

Pesquisadores brasileiros avaliaram pacientes e descobriram que a predisposição à doença gengival é maior entre homens que se alimentam mal, independentemente da higienização

Agência Einstein / Reprodução
Alimentos pró-inflamatórios aumentam risco de doenças periodontais, conclui estudo Manter uma dieta rica em alimentos pró-inflamatórios – como os ultraprocessados, que são cheios de gordura saturada, gordura trans, calorias e colesterol – eleva o risco de inflamação gengival
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Fernanda Bassette
Agência Einstein

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Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), publicado no Journal of Periodontology, revela que o açúcar não é o único vilão da saúde bucal. Os pesquisadores constataram que manter uma dieta rica em alimentos pró-inflamatórios – como os ultraprocessados, que são cheios de gordura saturada, gordura trans, calorias e colesterol – eleva o risco de inflamação gengival.

Se não tratada adequadamente, essa condição pode evoluir para um quadro severo, conhecido como periodontite, que pode levar à perda dos dentes. O estudo também aponta que o risco é maior para homens que consomem altos níveis desses alimentos.

— Um dos fatores que podem modular a resposta imunológica do organismo é a dieta. Foi por isso que surgiu a ideia de avaliar se elementos da alimentação poderiam ser protetores ou prejudiciais à saúde bucal — explica o periodontista Renato Corrêa Viana Casarin, professor da Faculdade de Odontologia da Unicamp e orientador do trabalho.

Para alcançar os resultados, os pesquisadores avaliaram 100 pacientes em aspectos como quantidade de placa bacteriana na boca, sangramento gengival, fluidos e marcadores inflamatórios, determinando o perfil inflamatório da dieta de cada um deles. Todos os participantes foram atendidos no ambulatório da Faculdade de Odontologia da Unicamp, em Piracicaba, no interior de São Paulo.

Na primeira etapa, houve uma parceria com nutricionistas da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e da Universidade de Istambul, na Turquia. Os voluntários preencheram um recordatório alimentar, um diário detalhado de todos os alimentos e bebidas ingeridos durante o dia, que considera até a quantidade e o tipo de temperos usados. Com esses dados, os pesquisadores calcularam o Índice Inflamatório da Dieta (IID) de cada pessoa.

— O IDD inclui 44 alimentos e nutrientes categorizados. Ele considera pró-inflamatórios os alimentos ricos em gordura saturada, gordura total, gordura trans, calorias e colesterol — afirma a nutricionista Helena Sampaio, professora da UECE e uma das responsáveis pelo estudo.

Os principais alimentos anti-inflamatórios são ricos em cúrcuma, fibras, flavonas, isoflavonas e betacaroteno.

— Quando falamos em alimentos ricos em flavonas e isoflavonas, em geral pensamos somente em soja. Mas outros de origem vegetal também têm esses nutrientes, e vale ressaltar que uma dieta rica em alimentos vegetais se torna anti-inflamatória — frisa Sampaio.

O IDD leva em consideração as proporções consumidas durante o dia.

— Não adianta nada comer salmão com salada no almoço e consumir muito álcool e alimentos ultraprocessados no resto do dia. O resultado, mesmo comendo salmão, talvez não seja uma dieta anti-inflamatória. Nós somos o que ingerimos no conjunto do nosso dia, e tudo pode influenciar a resposta imunológica — destaca Casarin.

Após estabelecer o índice inflamatório da dieta de cada paciente, os pesquisadores cruzaram os dados com a saúde gengival e observaram que os indivíduos com uma dieta pró-inflamatória – especialmente os homens – tinham maior incidência de sangramento gengival, independentemente da quantidade de biofilme (placa bacteriana) na boca.

— Dentro da análise estatística, levamos em consideração a quantidade de biofilme, porque esse poderia ser um viés importante. Mas os resultados mostraram que a dieta isoladamente teve efeito significativo na inflamação, independentemente da quantidade de placa. Nos homens, essa associação foi ainda mais forte, com risco aumentado em 27 vezes de ter gengivite — relata Casarin. Na população geral do estudo, a dieta sozinha aumentava em 3,94 vezes o risco de desenvolver o problema.

Essa não é a primeira vez que uma pesquisa associa o sexo masculino a problemas gengivais. Outro estudo brasileiro, realizado em parceria com pesquisadores dos Estados Unidos e da Alemanha, analisou a influência do gênero no tratamento periodontal em mais de mil pacientes e concluiu que os homens apresentam maior severidade nas doenças gengivais e pior resposta aos tratamentos.

— O risco aumentado de gengivite em homens é um ponto bastante relevante no estudo da Unicamp. No nosso trabalho, analisamos dados de homens e mulheres com periodontite que haviam recebido tratamento e vimos que as mulheres apresentaram uma resposta um pouco melhor do que eles após um ano — comenta a cirurgiã-dentista Nidia Castro dos Santos, professora do curso de Odontologia da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein e uma das líderes do estudo, publicado em maio no Journal of Periodontal Research. — Entretanto, o papel do gênero nas doenças gengivais ainda precisa ser totalmente desvendado, e o estudo da Unicamp contribui para a compreensão desse tópico.

Mais bactérias

Na segunda etapa da pesquisa da Unicamp, os cientistas coletaram fluidos gengivais dos pacientes e analisaram em laboratório quais bactérias e componentes inflamatórios estavam presentes. Mais uma vez, encontraram diferenças entre aqueles que tinham dieta pró-inflamatória e os que se alimentavam melhor.

— Percebemos que aqueles com alimentação pró-inflamatória tinham mais marcadores de inflamação, e isso se refletia na saúde dos tecidos gengivais, além de uma quantidade maior de espécies de bactérias relacionadas à infecção gengival — destaca Casarin.

Vale lembrar que a boca possui cerca de 700 espécies bacterianas que vivem em harmonia – e os problemas acontecem quando ocorre um desequilíbrio entre elas.

O que é periodontite?

O problema começa com a gengivite, que costuma se manifestar por meio de sangramento ao usar escova de dentes ou fio dental, sinalizando o início de uma inflamação gengival (que ocorre em decorrência do acúmulo de bactérias, formando um biofilme sobre o dente). Em geral, essa inflamação começa de forma leve e pode ser rapidamente resolvida com higienização adequada.

Mas, se não for tratada adequadamente, a gengivite progride e se aprofunda nos tecidos gengivais, caracterizando a periodontite.

— A evolução da gengivite não tratada é a periodontite, que é uma doença inflamatória crônica, que causa mau hálito, amolecimento dos dentes e perda dentária. É uma condição importante e que está diretamente relacionada aos hábitos do indivíduo — explica Casarin.

Para evitar a periodontite, é fundamental manter uma boa higiene bucal, realizar cuidados diários de forma correta e visitar o dentista regularmente. Também é importante adotar um estilo de vida saudável, não fumar e controlar o diabetes, pois, se não tratada, a doença aumenta o risco de periodontite.

Para a professora Nidia Castro, do Einstein, os resultados desse trabalho reforçam o conceito de que saúde bucal e saúde geral não se separam.

— A inflamação decorrente da dieta pró-inflamatória afeta o corpo todo: coração, fígado, intestino, vasos e gengiva. Assim, é muito importante que o dentista seja capaz de atuar em equipes multidisciplinares, conversando com médicos e nutricionistas, para elaborar estratégias de tratamento que promovam saúde e qualidade de vida para o paciente — completa Nidia.

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