Em visita à Telebras, Lula critica privatizações de empresas públicas
Para o presidente, empresas atuam em setores estratégicos para a soberania do país
A privatização de empresas públicas que atuam em setores estratégicos representa riscos para o povo brasileiro e para a soberania do país, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta terça-feira (27/08), durante uma visita ao Centro de Operações Espaciais Principal da Telebras (Cope-P).
— Tem coisas que têm que ser inexoravelmente do Estado. É assim na Alemanha, na França e nos Estados Unidos. Muita gente foi levada nesse país pela famosa teoria de que tem de abrir o mercado para todo mundo; que o importante é o livre acesso ao comércio. Mas livre acesso ao comércio é quando é para vender o produto deles aqui dentro. Quando é pra gente vender lá fora o que produzimos aqui, a gente sabe a dificuldade que é — declarou Lula.
No início de seu terceiro mandato, em 2023, Lula retirou a Telebras do conjunto de estatais que seriam privatizadas pelo governo anterior. Ele destacou o papel crucial da Telebras na proteção dos dados da população brasileira e na regulação do uso da Inteligência Artificial.
— Como é que um país que consegue ter uma empresa dessa qualidade resolve privatizá-la? Vamos doá-la para quem? Quem iria ficar com as informações que o Estado tem, e que somente o Estado tem de ter? — questionou. — Vamos fazer com que esta seja uma empresa a serviço do brasileiro; da nossa soberania; do nosso conhecimento tecnológico; da nossa inteligência artificial e do nosso banco de dados — completou o presidente.
Durante a visita, foi assinado um contrato entre a Telebras e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para fornecer internet banda larga a 409 agências do ministério em todo o país. Este contrato, no valor de R$ 153 milhões, com duração de cinco anos, representa o início de uma série de parcerias que a Telebras deve firmar com outros órgãos federais, uma vez que uma lei sancionada em novembro de 2023 garante à empresa preferência na contratação por órgãos públicos federais.
— A ideia é reduzir filas, aumentar a disponibilidade e melhorar a qualidade do serviço para a população — resumiu o presidente da Telebras, Frederico de Siqueiro Filho.
Lula destacou que a iniciativa privada tem como premissa a busca por lucro, o que pode tornar certos tipos de contratos menos interessantes, especialmente em regiões mais remotas onde a infraestrutura é escassa.
— Acreditar que a iniciativa privada cuidará sozinha de todas as necessidades de um país ou população é tolice — afirmou, reconhecendo a importância das parcerias, mas enfatizando que "não é preciso desmontar o Estado" para trabalhar em conjunto com o setor privado.
O presidente lembrou que tanto a Telebras quanto os Correios já foram alvos de tentativas de privatização e reforçou a importância dessas empresas para o desenvolvimento do país.
Onde a iniciativa privada não chega
Durante o evento, o presidente da Telebras, Frederico, e o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Marcelo Damasceno, apresentaram a evolução técnica e o estado-da-arte do Centro de Operações Espaciais, onde é operado o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, destacou a importância da Telebras para levar internet de alta velocidade a áreas remotas.
— Estamos preparados para missões críticas, garantindo a máxima segurança no tráfego de informações — afirmou o ministro, ressaltando que o objetivo é tornar a Telebras uma referência internacional em tecnologia e conectividade.
Inclusão digital e integração
O ministro Juscelino Filho frisou o papel da Telebras em levar conectividade às regiões mais distantes e carentes do Brasil.
— A Telebras é cada vez mais prestadora de soluções de conectividade, levando internet com velocidade para escolas, unidades de saúde, órgãos públicos, comunidades rurais, aldeias indígenas e quilombolas — disse.
Luciana Santos, ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, sublinhou a importância da integração entre a Telebras e outros órgãos, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), para um sistema de comunicação forte e eficiente.
Esther Dweck, ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, destacou que, embora o Brasil seja um país conectado, muitos brasileiros não têm acesso aos serviços digitais devido a planos de dados limitados.
— A Telebras adquire uma função determinante ao garantir que a conexão chegue aos lugares mais remotos do Brasil — concluiu.
COMENTÁRIOS