Especialistas buscam nova forma de diagnosticar obesidade além do IMC
O argumento é de que o Índice de Massa Corporal seria insuficiente para identificar quem tem riscos associados ao excesso de peso
Gabriela Cupani
Agência Einstein
Um grupo de cientistas vem defendendo que o diagnóstico da obesidade não pode se basear apenas no Índice de Massa Corporal (IMC), como tem sido feito há décadas. O assunto foi tema de debate no último Congresso Internacional de Obesidade, que aconteceu em junho, em São Paulo, e levou em conta questões de um documento prestes a ser publicado na revista científica The Lancet.
A obesidade é uma doença crônica que aumenta o risco de vários outros problemas. Atualmente, a fórmula usada para diagnosticá-la usa um cálculo baseado na relação entre peso e altura, cujo resultado dá o IMC. Valores entre 18,5 e 24,9 indicam peso normal, entre 25 e 29,9 é considerado sobrepeso e acima de 30, obesidade.
O que muitos especialistas vêm contestando é que esse índice não distingue entre massa muscular e gordura, nem considera a distribuição de gordura corporal, fatores importantes para determinar o risco de diversas condições perigosas para a saúde.
— Há um consenso de que não podemos nos basear apenas no IMC porque há pessoas com mesmo peso e altura que possuem riscos completamente diferentes em função, por exemplo, da distribuição de gordura, se ela está depositada mais na barriga ou nas pernas e no quadril — explica o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), organizadora do congresso junto à Federação Mundial de Obesidade.
Outros fazem coro a essa visão.
— O índice também não distingue quem tem mais massa magra ou maior porcentagem de gordura, assim uma pessoa muito musculosa pode ter um IMC alto e não ser obesa — observa o endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein. — Também não difere etnia, raça nem idade, quando se sabe que pessoas mais velhas têm menos massa muscular — completa.
No entanto, ainda não há acordo sobre como diferenciar essas situações. O novo documento quer reavaliar quem tem obesidade clínica e pré-clínica, e propõe uma definição baseada em sinais e sintomas, como alterações metabólicas, o que ajudaria a identificar quem precisa de tratamento. Nesse cenário, pessoas com IMC alto, mas sem grandes acometimentos que coloquem a saúde em risco, não teriam obesidade clínica e, portanto, não precisariam ser tratadas.
A Associação Europeia para o Estudo da Obesidade lançou, no último dia 5 de julho, um consenso que amplia o conceito de obesidade, levando também em conta o aumento da circunferência abdominal e complicações associadas ao excesso de peso, mesmo que o IMC acuse apenas sobrepeso. Para Halpern, isso pode gerar outro problema: aumentar o número de pessoas consideradas com obesidade no mundo.
No Brasil, a Abeso e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) propõem avaliar o indivíduo também pela trajetória de peso, sugerindo os termos “obesidade controlada ou reduzida” conforme o percentual de peso perdido — algo entre 5% e 15%.
— Uma perda de peso de 5% a 10% já melhora muito a qualidade de vida do paciente e reduz fatores de risco — pontua Rosenbaum. — Nosso objetivo é colocar um alvo, manter o que o paciente já perdeu, além de evitar que ele fique decepcionado — afirma o médico do Einstein.
Halpern completa:
— Se a pessoa já perdeu muito peso no passado e melhorou sua saúde e qualidade de vida, o objetivo não é perder mais, mas manter o peso.
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