ARTIGO | Hamas, Israel, Faixa de Gaza: mais um capítulo dos conflitos israelo-árabes em 2023
Ofensiva do Hamas sobre o território israelense, a partir da Faixa de Gaza provocou uma série de questionamentos a respeito dos atores internacionais envolvidos no episódio e das motivações para que ele ocorresse
Mateus Dalmáz*
A ofensiva do Hamas sobre o território israelense, a partir da Faixa de Gaza provocou uma série de questionamentos a respeito dos atores internacionais envolvidos no episódio e das motivações para que ele ocorresse. Quatro perguntas básicas parecem importantes de serem respondidas e conduzem os caminhos desse texto.
Afinal, quem é o Hamas?
A sigla “Hamas” significa “Movimento de Resistência Islâmica”. Trata-se de um grupo sunita palestino, criado em 1987, que atua na Faixa de Gaza e na Cisjordânia e que defende três preceitos: promover o islamismo, praticar a caridade e lutar contra Israel. Desde 2007, governa a Faixa de Gaza, enquanto a Autoridade Palestina comanda a Cisjordânia. O Hamas não reconhece a soberania territorial de Israel e luta pela criação de um Estado palestino abrangendo todas as regiões: Gaza, Cisjordânia, Israel e especialmente Jerusalém.
Por que o Hamas atacou Israel?
Porque discorda do processo de normalização das relações entre Israel e Arábia Saudita, cujo diálogo, promovido pelos Estados Unidos, tradicional aliado dos israelenses, pode fazer com que Riad reconheça a legitimidade do governo de Tel Aviv na região. O ataque do Hamas é uma demonstração de que a aproximação com Israel não representa o ponto de vista do grupo palestino e que o diálogo entre árabes e israelenses no Oriente Médio não é a política proposta pelo Hamas para a criação da Palestina. Há, portanto, o interesse de retomar o radicalismo pró-Palestina do Fatah, grupo que, no passado, liderado por Yasser Arafat, havia sustentado uma postura fortemente anti-Israel e que, no decorrer do tempo, flexibilizou as relações com os israelenses e que, por isso, passou a sofrer oposição do Hamas. Os líderes do Hamas também têm motivações pessoais para radicalizar as relações com Israel. É o caso de Yahya al-Sinwar, chefe do grupo, e Mohammed Deif, comandante militar, que sofreram com cárcere e perda de familiares nos históricos conflitos contra os israelenses.
Quem apoia o Hamas?
A ofensiva do Hamas surpreendeu pela organização e pelo material bélico utilizado. Foram milhares de mísseis num curto espaço de tempo. Tal aspecto levanta hipóteses sobre auxílios oferecidos por diferentes aliados, entre eles: o Hezbollah, movimento fundamentalista islâmica xiita libanês, que vem externando oficialmente apoio aos ataques do Hamas; o Irã, república xiita que sustenta uma radical política anti-Israelense desde a revolução iraniana, de 1979, e que fornece recursos e armas para o Hamas; o Qatar, monarquia sunita que investe em infraestrutura na Faixa de Gaza e também abastece o Hamas com material bélico.
Por que a criação do Estado de Israel alterou a geopolítica do Oriente Médio?
Com a decisão da Organização das Nações Unidas (ONU) de criar o Estado de Israel, em 1948, três processos históricos passaram a se desencadear na região: primeiro, a escalada de conflitos e de corrida armamentista entre países árabes e Israel pela hegemonia política, militar e econômica no Oriente Médio; segundo, a aproximação entre Estados Unidos e Israel, uma vez que os americanos enxergaram no governo de Tel Aviv um aliado estratégico para dissuadir e debelar ações de Estados árabes para controlar a região, especialmente o petróleo; terceiro; a tensão em torno da criação do Estado da Palestina, uma vez que a comunidade internacional progressivamente convergiu com a ideia de reunir os palestinos em um Estado independente, algo fortemente rejeitado por Tel Aviv.
Vale lembrar que Israel entrou em guerra contra Egito e Jordânia em função da criação do Estado de Israel (1948); contra o Egito e ao lado da Grã-Bretanha e da França por causa do Canal de Suez (1956); contra Egito, Jordânia e Síria, na “Guerra dos Seis Dias” (1967); e novamente contra Egito e Síria no ataque destes a Israel no dia do Yom Kippur (1973). Especialmente a partir da Guerra dos Seis Dias, os Estados Unidos promoveram com Israel uma parceria no âmbito militar, tecnológico e estratégico, que fez com que as forças de defesa de ambos se desenvolvessem, acirrando a competição por armamentos no Oriente Médio, o que vem alimentando a indústria bélica desde então.
A criação do Estado da Palestina e normalização das relações entre Israel e os países islâmicos é algo que não se pode imaginar que aconteça em outro período que não seja o longo prazo. A curtíssimo prazo, fica-se com a certeza de que Israel mais uma vez terá na reação enérgica e violenta um modo de demonstrar poder e soberania na região. E que contará com o apoio estadunidense (hard power) e da simpatia (soft power) ocidental a respeito do tema.
(*) Doutor em História, professor dos cursos de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da Univates
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