Elis Regina: 40 anos de muita saudade da Pimentinha
Em 19 de janeiro de 1982, calou-se a voz que ousou gritar contra opressões e cujo talento inspira gerações de artistas até a atualidade
Como se não bastasse a voz gigantesca que mal parecia caber em seus 1,53 metro de atrevimento, Elis Regina – a Pimentinha - foi uma personagem digna de anedota, como sugerem as histórias contadas pelos três filhos e pelos companheiros de vida e de música em que ela peitou da ditadura ao machismo.
Desde a morte precoce da cantora, há exatos 40 anos, em 19 de janeiro de 1982, biografias e materiais audiovisuais mostravam esses dois lados. Desde o fim do ano passado, esse material tem crescido, com lançamentos de discos, documentários e até um álbum de história em quadrinhos.
O álbum “Elis, essa saudade...” (Warner Music Brasil), lançado em dezembro, uma coletânea com 16 singles, prova que, embora a gaúcha não tenha escrito seus hits, sua interpretação forjou assinatura nessas faixas (casos de “Águas de Março”, “O Bêbado e o Equilibrista” e “Como Nossos Pais”).
O disco, projeto dos jornalistas Danilo Casaletti e Renato Vieira, tem versões inéditas pode ser ouvido nos streaming. Para saber mais sobre as músicas, o portal do Itaú Cultural (www.itaucultural.org.br) vai manter no ar um material especial com mais detalhes sobre a cantora e uma área dedicada à coletânea em que Casaletti comenta faixa a faixa.
O cartunista Gustavo Duarte também prepara uma publicação em que transforma Elis em personagem de quadrinhos. “Será uma ‘fantasia biográfica’ sobre a Elis que espero lançar entre o final deste ano e o próximo. Desejem-me sorte”, escreveu o desenhista em post no Instagram em que compartilhou uma prévia da imagem da pequena Elis.
O projeto mais confessional é “Elis e João”, com direção de Lea Van Steen e produção da HBO. O documentário vai percorrer as entrevistas e depoimentos da cantora em diversos países, em que João Marcello Bôscoli, primogênito da cantora, dita a narrativa. Em 2019, Bôscoli também publicou suas memórias em “Elis e eu: 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe”. Além dele, que é produtor musical, Elis colocou mais dois artistas no mundo: Maria Rita e Pedro Mariano, cantores como ela. Além de contarem suas lembranças, o trio se esforça para manter Elis relevante.
Biografia
Elis Regina Carvalho Costa (Porto Alegre, 17 de março de 1945— São Paulo, 19 de janeiro de 1982) era conhecida pela competência vocal, musicalidade e presença de palco. Foi aclamada tanto no Brasil quanto internacionalmente, e comparada a cantoras como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Billie Holiday. Com os sucessos de Falso Brilhante (1975-1977) e Transversal do Tempo (1978), Elis Regina inovou os espetáculos musicais no país. Foi casada com Ronaldo Bôscoli, com quem teve João Marcello Bôscoli (1970); em 1973, casou-se com o pianista César Camargo Mariano, com quem teve dois filhos: Pedro Camargo Mariano (1975) e Maria Rita Camargo Mariano (1977).
Foi a primeira grande artista a surgir dos festivais de música na década de 1960 e descolava-se da estética da Bossa Nova pelo uso de sua extensão vocal e de sua dramaticidade. Inicialmente, seu estilo era influenciado pelos cantores do rádio, especialmente Ângela Maria. Depois de quatro LP's gravados e sem grande sucesso —Viva a Brotolândia (1961), Poema de Amor (1962), Elis Regina (1963), O Bem do Amor (1963) — Elis foi a maior revelação do festival da TV Excelsior em 1965, quando cantou "Arrastão" de Vinícius de Moraes e Edu Lobo. Tal feito lhe garantiria o convite para atuar na televisão e, pouco tempo depois, o título de primeira estrela da canção popular brasileira, quando passou a comandar, ao lado de Jair Rodrigues, um dois mais importantes programas de música popular brasileira, O Fino da Bossa. Em 1967, casou-se com Ronaldo Bôscoli, então diretor d'O Fino da Bossa. A partir de 1972, Elis começaria um relacionamento com César Camargo Mariano, que duraria até 1981, em uma das mais bem sucedidas parcerias da Música Popular Brasileira.
Cantou muitos gêneros: da MPB, passou pela bossa nova, samba, rock ejazz. Interpretando canções como "Madalena", "Águas de Março", "Atrás da Porta", "Como Nossos Pais", "O Bêbado e a Equilibrista" e "Querellas do Brasil", registrou momentos de felicidade, amor, tristeza e patriotismo. Ao longo de toda sua carreira, destacou-se por cantar também músicas de artistas, ainda, pouco conhecidos, como Milton Nascimento, Ivan Lins, Belchior, Renato Teixeira, Aldir Blanc, João Bosco, ajudando a lançá-los e a divulgar suas obras, impulsionando-os no cenário musical brasileiro. Entre outras parcerias, são célebres os duetos que teve com Jair Rodrigues, Tom Jobim e Rita Lee. Com seu segundo marido, o pianista César Camargo Mariano, consagrou um longo trabalho de grande criatividade e consistência musical e, em termos técnicos, foi considerada a melhor cantora brasileira. Sua presença artística mais memorável talvez esteja registrada nos álbuns Em Pleno Verão (1970), Elis (1972), Elis (1973), Elis & Tom (1974), Elis (1974), Falso Brilhante (1976), Transversal do Tempo (1978), Essa Mulher (1979), Saudade do Brasil (1980) e Elis (1980). Foi a primeira pessoa a inscrever a própria voz como se fosse um instrumento, na Ordem dos Músicos do Brasil. Em 2013, foi eleita a melhor voz feminina da música brasileira pela Revista Rolling Stone. Elis foi citada também na lista dos maiores artistas da música brasileira, ficando na 14ª posição, sendo a mulher mais bem colocada. Em novembro do mesmo ano estreou um musical em sua homenagem Elis, o musical.
Elis Regina morreu precocemente aos 36 anos, no auge da carreira, causando forte comoção no país e deixando uma vasta obra na música popular brasileira.
Com informações do jornal Metro e Wikipedia
Entre no grupo do Portal de Notícias no Telegram e receba notícias da região
COMENTÁRIOS