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São Jerônimo, RS, 03/07/2024

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João Adolfo Guerreiro

'SaLdade, palavra triste’

Criança é banguela, velho usa chapa

Rodolpho Machado / Placar
'SaLdade, palavra triste’ Chico Buarque de Holanda fez 80 anos

João Adolfo Guerreiro


Correio sem Juremir, ZH sem Peninha, sou eu, assim, sem você. Por falar em ZH,vocês que, como eu e meu confrade Sérgio Apache, ainda leem jornal impresso, járepararam que o Almanaque do Ricardo Chaves sumiu do jornal, junto com oSegundo Caderno e com o Karnal no Caderno Doc do fim de semana?

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Chico Buarque de Holanda fez 80 anos ontem. Tá um velho bem inteiro, mais doque os da minha família. Tem uma esposa de 49 anos, mais nova que a do Lula -mas perde longe pro Temer, o imbatível. Grande Chico, um dos maiores nomes daMPB que ainda é escritor consagrado, uma das personalidades brasileiras doséculo XX. Filho de uma pianista e do famoso sociólogo e historiador SérgioBuarque de Holanda, autor do clássico Raízes do Brasil. Minha mãe tinha esselivro, capa laranja com letras pretas, que nem o Caderno H do Quintana, mas naépoca eu tava mais a fim dos quintanares do que da Sociologia. Tenho um primoque se chama Éverton de Holanda, vai que sou parente de um parente do Chico,né? Meu sobrinho, o Cabelo, parece com o Chico jovem, só faltam os olhosverdes. Sim, meu sobrinho é bonito e casou com a Mosquitinha do Amor, mas issoé outra história. Voltando pro Chico, que é de esquerda e foi perseguido peladitadura, além de ser tricolor - Fluminense, quase a mesma coisa que sergremista. Queria ficar bom no violão popular na juventude e concluí que suascanções, cheias de acordes e harmonias complexas, eram o caminho. E lá fui,educando as mãos direita e esquerda em seu repertório - deu certo! Feliz aniversário,Chico, meu velho.

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SaLdade, palavra triste

Criança dá trabalho, velho dá problema.
Criança é lisinha, velho é enrugadinho.
Criança é dengosa, velho é ranzinza.
Criança tem futuro, velho tem passado.
Criança é banguela, velho usa chapa.
Criança usa fralda e carrinho, velho usa fraldão e cadeira.
Crianças crescem e ficam, velhos encolhem e se vão...

Tão fofas as crianças, crescendo sob nosso cuidados, a gente auxiliando suaconstrução. Já os velhos, acabados, em desconstrução, exigindo nosso cuidado eatenção, céleres em direção ao abismo da debacle do corpo físico. Mas, sabe,que falta daquele velhinho mau humorado andando de bengala e me batendo comela: "Me respeita, guri de merda". Imagina, que elogio, quem ainda mechamava de guri neste mundo? Daquela velhinha na cadeira de rodas, sorridente,toda faceira com seu "piloto" - e o "piloto" mais ainda. Datia velha linda e cheirosa que ainda me apertava as bochechas e me chamava deapelidos de criança, enquanto eu cafungava no seu pescoço ou nuca. "Para,guri, para" - ria-se. Eles se foram e a criança morreu com eles. Quando oúltimo velho da família se vai uma porta se fecha e uma sala deste plano físicoé lacrada para sempre. A partir de agora, somos nós com nossas própriasmemórias, não há mais sábio de plantão com a poção da eterna meninice. Velhosderam problema, mas deram tantas soluções. Velhinhos, amados velhinhos, o queserá da minha vida agora sem vocês? "SaLdade, palavra triste, quando seperde um grande amor". Restaram as crianças e, espero, um dia, ser umvelhinho pra elas como vocês foram pra mim. "Foi um privilégio ter estadocom vocês".



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