João Adolfo Guerreiro
JOÃO GUERREIRO | 24 h sem água, a Previdência, os chuveiros e os dragões-de-komodo
Já viram um dragão-de-komodo?
João Adolfo Guerreiro
O que mais importa na casa, a água ou a luz? Ou melhor: o que incomoda mais, falta d'água ou de eletricidade? De água, né? Sem luz a gente se vira no modo analógico e antigo, já sem água é a sede, o horror e o fedor. Pois ficamos, todos, 24 horas sem agua na cidade, a Corsan fazendo um trabalho forte no sistema. Avisou antes, para o pessoal se prevenir.
Os mais previdentes, que o são por natureza, possuem caixa d'água em casa, fundamental para momentos como esse. Os menos previdentes, como eu, tem que juntar água em baldes e bacias e comprar água mineral. Se tem bichos, cuidar para que os bebedores fiquem cheios e com reserva, caso sejam pequenos. Os meus são grandes, pra modo de gatos e cães sempre terem água disponível por mais de 24 horas. Um pouco previdência, pra garantir hidratação aos animais em caso de qualquer imprevisto, e outro pouco por preguiça, pra não ter de estar toda hora verificando os mesmos.
Uma segunda tarefa, depois do estoque de água, é aproveitar a última hora de abastecimento, conforme o avisado, para tomar um hipermegasuperultra banho, de modo a não ficar "fédor dog" por 24 horas, tipo um planador de asfalto, com asas, mas sem voar. Bom, agora vamos nessa, enfrentar a estiagem programada. Prevenidos. Previdência. Vivemos melhor com luz, mas sobrevivemos sem; sem água, não sobrevivemos. Fatos. Logo, a previdência salva vidas. Toda e qualquer forma de previdência, inclusive a Previdência Social, que qualifica e alonga a vida. Meu pai foi um cara previdente.
Não lembro se a casa lá da Colônia possuía caixa d'agua, só lembro que faltava muita luz e muita água por lá, e o seu Jari é que resolvia a parada nesses dias, ele tratava dessas coisas. Lembro também que meu pai era um cara que resolvia as coisas à seu modo: certa vez a "patente" deu pra entupir seguidamente e estressou o pai, que era brigadiano. Não teve dúvida: pegou uma ponteira de ferro e quebrou a parte de baixo do vaso, fazendo um buraco ali. Resolvido o problema: a gente "fazia" direto ali e depois dava a descarga. De início achei legal, pois sempre fui curioso e, enfim, descobri como a patente, de fato, funcionava. Descobri um novo mundo! Depois fiquei sestroso. Quando urinava, de pé, tudo ok, estava vigilante; mas na hora do 2, sentado, ficava com medo que uma cobra, um escorpião ou um dragão-de-komodo me "pegasse cagando". Borrava-me de medo, literalmente. Tá, sei, dragões-de-komodo só existem na ilha de Komodo, mas eu tinha menos de dez anos, ainda era dado a esses temores fantasiosos, infundados e esquisitos, bem como acreditava em Coelhinho da Páscoa, Papai Noel, Saci Pererê, Velho do Saco e ladrões de crianças da kombi, que ofereciam balas na saída da escola, embora os últimos parece que existiram mesmo, só que em Porto Alegre, não na Colônia.
O meu pai tinha uma peculiaridade: quando algo o estressava, ele resolvia dessa maneira bruta e ficava um tempo sem lidar com aquilo, pra aliviar a cabeça. Tipo semanas se aliviando. Eu, previdente, procurava nunca estressa-lo. Enquanto isso, cobras, escorpiões e dragões-de-komodo azucrinavam meu defecar, espreitando-me à sorrelfa. Já viram um dragão-de-komodo? Olhem a foto acima, é um deles. Meu medo até que se justificava, né? São criaturas aterrorizantes e brutais. Eles engolem um bicho grande inteiro! E eu herdei um pouco o jeito de ser do meu pai. Um exemplo: comprei um chuveiro eletrônico, a oitava maravilha do mundo, a pedido da minha esposa. Parecia a Enterprise de Jornada nas Estrelas (imagem abaixo). Possuía um controlador de aquecimento com luzinha e tudo: quanto mais azul, mais fria a água; quando mais vermelho, mais quente. Uma beleza, só que vivia estragando e, assim, estressava-me. Não sei se por culpa da Equatorial ou por defeito em minha instalação elétrica, mas o fato é que estragou umas três vezes num ano, até a garantia vencer. Os antigos não davam problema, era só trocar a resistência de quando em quando. Da última vez, tirei-o de lá e fui na loja. Descobri que ninguém arrumava aquilo e que outro sairia quatrocentos pilas. Resultado: deixei o banheiro três meses sem chuveiro. Calma, calma, minha esposa é mui previdente e construiu outro banheiro em casa, com chuveiro. Usávamos aquele. Recentemente fui na loja e paguei 200 pilas por um modelo mais simples, que parece o Seaview do Viagem ao Fundo do Mar (imagem abaixo). Se é pra se incomodar...
Mas então, não recordo se lá em casa, na Colônia, havia caixa d'água, mas quando viemos pra Cohab, tinha. Só que não sei porque cargas d'água a caixa d'água estressou o pai e ele a retirou. Depois, muitos anos depois, colocou outra. Só soube quando fui lá, após casado, e ele disse que a água do seu banheiro descia direto da caixa. Sim, o pai era um cara previdente. Só virou brigadiano por causa disso, pra ter estabilidade e, principalmente uma ótima, excelente Previdência. Viveu bem 85 anos, era forte, só não chegou mais longe, tipo 90 ou 100, porque foi imprevidente com o cigarro, o qual só largou aos 70 anos, muito tarde, como ficaríamos sabendo dolorosamente depois.
Não sou uma cara mui previdente, pois ainda não possuo caixa d'água, embora, por exemplo paterno, tenha uma ótima Previdência. Não fumo e bebo socialmente. Herdei a diabetes dele e da mãe. Quase tudo é herança: exemplos, personalidade, doenças crônicas, etc. Todavia, o meu estoque d'água serviu certinho para as necessidades de hidratação, banho e patente. Ufa, acordei às cinco e tanto e a água estava vindo, mesmo que suja, mas essa parte é barbada de lidar.
Ih, tá sem pressão agora. Minha esposa acordou às oito e veio me informar. Mas tava funcionando antes! Assim não há paciência, previdência ou Previdência que de conta. Bah, mas que saco, já tô começando a ficar estressado com essa Corsan! Vou pegar uma pá de corte e... cavar um poço!
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