João Adolfo Guerreiro
JOÃO GUERREIRO | A bárbara Santa Bárbara, barbaramente martirizada
O romano Dióscoro foi um pai bárbaro
João Adolfo Guerreiro
A "Rapunzel cristã" de Nicomédia, antiga cidade romana situada hoje na Turquia, onde, no final dos anos 200, nasceu e viveu Bárbara, criada pelo zeloso pai numa torre, a fim de ser protegida da podridão do mundo. Sim, o mundo é sujo e bárbaro desde sempre. Entretanto a bela, rica e casta Bárbara era bárbara não nesse sentido pejorativo, mas sim no positivo, o de algo ou criatura muito especial ou diferenciada. Bárbara, bárbara, boa uma barbaridade.
E assim todos achavam em Nicomédia, ainda mais os seus inúmeros pretendentes. Imagina? Linda, nova, virgem e rica? Toda a rapaziada da city deseja ter o Dióscoro como sogrão. Só que a bárbara Bárbara não estava por essas, estava numas de contemplar a natureza lá de cima da torre do castelo do pai, refletindo acerca do possível criador de tanta beleza, nem um pouco interessada em cultivar tranças pra ter príncipes dependurados nela. Aliás, por falar em cultivar, Bárbara estava mais a fim da cultura, visto que o pai pagava professores pra menina. Contudo, ela precisa casar, tinha de casar, era de interesse do pai e da sociedade da época. Assim, achando que dar umas bandas por Nicomédia ia arejar a mente da garota e lhe despertar o interesse pelo sexo oposto, Dióscoro liberou Bárbara do cativeiro familiar de luxo.
Só que o tiro saiu pela culatra, pois a filha contactou os cristãos, conheceu a Palavra de Jesus e assim os planos de Dióscoro goraram mesmo. Mandou fazer uma cruz na torre e assumiu seus cristianismo, o que deixou o pai putíssimo da cara, pois os romanos eram politeístas e os cristãos monoteístas serviam de proteína pros leões. Pra resumir a história, Bárbara foi barbaramente martirizada, seus seios foram arrancados e o próprio Dióscoro, que a entregara para as autoridades, decapitou-a num golpe de espada, pois ela não renegou sua fé. Dizem que um raio matou Dióscoro na hora. Bem feito. E daí a moça virou Santa Bárbara, santificada popularmente, eis que só no século IX a Igreja tomou pra si a exclusividade do processo de canonização.
Inclusive a Igreja, depois, nos anos 1960, rebaixou esses santos populares de antanho, mas posteriormente teve de rever isso. Pesquisem sobre, é legal, não dá tempo de explicar aqui. Assim, Bárbara mais uma vez superou adversidades, ela que é quem nos protege nos momentos barra pesada da natureza, de tempestades e raios. E também zela pelos mineiros, por isso ela veio parar na Região Carbonífera e em Charqueadas. Hoje é feriado aqui, por Santa Bárbara, a Padroeira dos Mineiros. Aliás, há uma imagem dela muito linda no Parcão situado na entrada da cidade, junto à ERS-401. E por aqui ela já enfrentou uns perrengues também: quiseram tirar a estátua do local, mas não deu em nada; desejaram mudar o feriado, mas o povão se rebelou e também não deu em nada. Assim, seguem firmes, a santa e o feriado municipal.
A paróquia local fez esta semana um tríduo em sua homenagem, que encerrou hoje, com missa festiva às 10 horas. Estou ouvindo daqui de casa os sinos. Antigamente a Festa de Santa Bárbara era "A" festa por aqui, mas daí eram "outros tempos", como cantou o charqueadense Alberto André - que homenageou a colega de vitral de Bárbara na igreja Navegantes, Santa Cecília, na bela canção Ciça Cecília.
O fato é que Santa Bárbara protege mesmo Charqueadas, pois dificilmente os temporais que castigam a região são fortes na cidade. Hoje é seu feriado e eu não poderia deixar de escrever sobre. Tenho imagens suas aqui em casa, claro. É a santa da minha cidade. Depois darei um pedal até o Parcão pra ver a estátua e "mostrar meu olhar". Valeu, Santa Bárbara.
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