João Adolfo Guerreiro
JOÃO ADOLFO GUERREIRO | Tex Willer nas mãos de um brasileiro
Mauro é o primeiro brasileiro a desenhar Tex Willer
João Adolfo Guerreiro
Ao contrário de mim, que demorei sete meses pra fazer essa crônica registrando o feito inédito de um brazuca, o ítalo-americano Tex Willer, ranger do Texas e chefe indígena Navajo do Velho Oeste Americano, é rápido no gatilho e, em Noite Longa em Cayote, resolve toda a parada da vez antes que o sol nasça. Mazáááá galo, quer dizer, cowboy! Foi na edição especial colorida número 18 de Tex (imagem acima), publicada em maio de 2024 pela Mythos Editora, numa história escrita por Mauro Boselli e desenhada por Pedro Mauro. E Mauro é o motivo desta crônica ser escrita. Sabe quem ele é?
Pois então, ele simplesmente foi o primeiro brasileiro a desenhar o famoso ranger em seus 75 anos de vida editorial no mundo. Tex Willer foi criado em 1948 na Itália pelo escritor Gian Luigi Bonelli (1908 – 2001) e pelo desenhista Aurélio Galleppini (1917 – 1994), publicado até hoje pela Sergio Bonelli Editore em diversos países. No Brasil, o “ranger” surgiu em 1951, na edição 28 da revista Júnior, com o nome de Texas Kid, durando até 1957. Após um hiato de 13 anos, voltou já como Tex Willer, pela Editora Vecchi, em 1971, sendo desde então publicado de forma ininterrupta e, durante os anos 1970 e 1980, campeão de vendas nas bancas brasileiras, tanto que resiste até hoje, mesmo com a crise dos impressos em geral. Além de rápido no gatilho, vê-se que Tex é duro na queda, mesmo que dificilmente caia do cavalo.
Pedro Mauro, aos 70 anos de idade e mais de 50 de carreira, iniciou como aluno do desenhista Ignácio Justo, publicando sua primeira história em quadrinhos em novembro de 1970 pela revista Far-West (editora Taika). Mauro, entretanto, não é um neófito nas fileiras da Bonelli, pois já contribui para a editora em trabalhos com o roteirista Gianfranco Manfredi (autor de Mágico Vento), como Adam Wild e Primavera de 68, lançados no Brasil pela gaúcha Saicã e pela paulista Editora 85, respectivamente. Não é o primeiro latino-americano a desenhar Tex, eis que muito antes os saudosos argentinos Miguel Repetto e Ernesto Seijas fizeram, inclusive, parte da equipe texiana oficial da Bonelli.
Entretanto, o grande responsável pelo feito de Mauro é o jornalista, apresentador e tradutor brasileiro Thiago Gardinali, que inclusive deu a notícia em primeira mão durante o Uma Tarde Bonelli, evento ocorrido em 30 de setembro e 1º de outubro do ano passado na Biblioteca Pública Estadual do RS, em Porto Alegre, e que marcava o aniversário editorial de 75 anos de Tex. Só que todo o processo iniciou em 2018, quando Thiago foi à Bonelli levar o cartaz do festival brasileiro comemorativo aos 70 anos da personagem, desenhado justamente por Pedro Mauro. Boselli viu, Thiago percebeu um brilho em seu olhar e, daí pra frente, começaram as conversações, que estão bem descritas no gibi de maio.
Na esteira da enchente de maio e de toda a bagunça que a mesma provocou na já difícil distribuição de gibis em geral e de Tex Willer em particular, só na tarde do domingo passado, pedalando de bobs pelo Centro de Charqueadas, é que vi a Turbo Games aberta, entrei e encontrei o exemplar de Tex com Pedro Mauro. Em minha defesa pelo atraso, afirmo que não escreveria sobre sem ter o gibi em mãos. A história Noite Longa em Cayote (imagem abaixo) é a última das cinco contidas nessa edição especial em cores - Tex é em P&B - de 162 páginas, e é curtinha, pois inicia na 131. Todavia, já é um marco e, esperamos, Pedro Mauro repita a dose e seu traço apareça em alguma das edições mensais - e mundiais - do "ranger" pela Bonelli.
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