João Adolfo Guerreiro
JOÃO ADOLFO GUERREIRO | O olhar de Renoir da raposa
Tudo tão tênue, delicado, solar, tão paz na pintura do Dionatan, daqui de Charqueadas
João Adolfo Guerreiro
Quando vi a pequena pintura acima na feira do X Sarau Literário de Charqueadas, fiquei cativado. As cores, a luz, o movimento, a disposição da natureza e dos personagens, a situação e o momento. Tudo tão tênue, delicado, solar, tão paz. Uma sensação muito boa se apoderou de mim, uma nostalgia infantil.
Pra onde mirava e o que pensava o menino, claramente inspirado em O Pequeno Príncipe, de Exupery? Entretanto, foi olhar da raposa, encarando-me, que mais me tocou. O que ela percebeu em mim? Flagrou algum pensamento íntimo? Interessou-se pelo meu encantamento? Quis mostrar-me que quem observa é igualmente observado? (É tu?) A raposa me cativou e, assim, tornou-se responsável por mim. Pra sempre. Toda vez que eu a encarar. Confesso que, igualmente, há algo nela que me atrai e seduz e que veio justamente pelo olhar. Um carinho acolhedor de mãe, incondicional, cúmplice, amoroso, indizível. Isso me fez desejá-la e trouxe a necessidade de tê-la. Nascemos um para o outro, eu e a raposa, senti sem precisar pensar. Aliás, nasci para a raposa que me cativou. Logo, a pintura tinha de ser minha.
Já vi esse olhar antes, em algum outro lugar... Sim, nas pinturas de Renoir, onde as pessoas te devassam do passado em que foram retratadas. Sempre sinto uma certa perturbação, como agora. E encantamento, hipnotizado pela profundidade daqueles olhos, ainda vivos e eternos. Nunca poderei comprar um Renoir, claro. Nem cópia. Já vi alguns, mas o que tenho dele são imagens em livros de arte, uma boa quantidade delas e algumas reproduções de boa qualidade. Entretanto, a raposa estava ali, original, ace$$ível, ao meu alcance. Percebi que haviam outros olhares a ela dirigidos, enamorados e cobiçosos... Não titubeei.
O autor da pintura é o Dionatan, daqui de Charqueadas. Criou-a, libertando-a para o mundo, onde adquiriu vida, relações, história e significado próprios. Valeu, Dionatan.
- Oi, raposa laranja. O que pensa esse menino verde? O que penso? Agora me pertencem, mas sou teu. Cativo. (Sinto saudade de ti, sabe?).
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