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São Jerônimo, RS, 18/09/2024

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João Adolfo Guerreiro

JOÃO ADOLFO GUERREIRO | O ‘Dono da Bola’

O paulista Candido Dias e o Grêmio

Arquivo Pessoal
JOÃO ADOLFO GUERREIRO | O ‘Dono da Bola’ Até o jornal sorocabano Cruzeiro do Sul, em 2013, publicar matéria especial sobre o "Dono da Bola" que criou o Grêmio, nem seus netos conheciam a importância histórica do avô para o clube

João Adolfo Guerreiro

Ontem o Grêmio fez 121 anos, pois "nasceu" em 15 de setembro de 1903 em Porto Alegre. Personagem primal de sua história, de Candido Dias só se sabe da cidade em que veio ao mundo, Sorocaba, em São Paulo. A data e o ano são desconhecidos.

Mesmo sendo oriundo de uma família tradicional do então Município de Santo Amaro (hoje, distrito de São Paulo) - seu pai, o vereador e empresário João Dias, é nome de rua na capital paulista -, apenas sua certidão de óbito, assinada por seu irmão médico, Pedro, é conhecida: faleceu em Santo Amaro em 12 de maio de 1917, aos 37 anos. Logo, nasceu entre 1879 e 1880. O que se sabe, e muito bem, é que estava na capital gaúcha naquele 7 de setembro de 1903 assistindo a partida amistosa de demonstração do novo esporte de origem inglesa, o futebol, realizada entre o primeiro e o segundo quadros do Sport Club Rio Grande. Quando a única bola dos riograndinos murchou, Dias emprestou a sua, garantindo a continuidade do "match" no velódromo municipal, onde hoje fica o Parque da Redenção E é justamente aí que inicia a história do Grêmio.

Bola de futebol era artigo muito raro, tanto que um dos seis irmãos de Dias, que viajara pela Inglaterra, trouxe uma de lá e o presenteou - possivelmente era o mesmo irmão que conheceu Charles Miller, aquele que traria o futebol para o Brasil. Donos de curtume e de fábrica de artigos de couro em Santo Amaro, os Dias possivelmente enviaram o jovem de vinte e poucos anos Candido para Porto Alegre a fim de representar os negócios da família, pois era no Rio Grande do Sul que compravam o couro, matéria-prima que utilizavam. Assim, foi em torno da bola de Candido Dias que o Grêmio surgiu, oito dias depois, num final de tarde, no Salão Grau, restaurante de um hotel da rua 15 de Novembro (atual Rua José Montauri), no Centro.

Uma outra ligação de Candido com o Grêmio foi que a primeira sede do clube foi justamente na república onde residia, na antiga rua Santa Catarina, 47, junto com o amigo Joaquim Ribeiro, também fundador do Imortal. Entretanto, ressalte-se que não era um tricolor como hoje, inclusive sendo este o motivo de Candido se desligar do recém criado clube. Ele queria que as cores fossem vermelho, preto e branco (as cores de São Paulo), mas os alemães que estavam entre os 32 jovens do grupo fundante preferiram havana, preto e branco e ganharam no voto. Dias deixou o Grêmio e deixou também a bola, pois já a havia doado ao clube e era, vê-se, um homem de palavra. O azul só entraria depois nas cores gremistas, por um motivo pra lá de prosaico: não havia tecido havana em metragem suficiente em Porto Alegre para a confecção do uniforme, mas azul, havia. Assim, por um bom tempo, o Tricolor foi quadricolor, até o havana ser posteriormente excluído - é por isso que na conhecida primeira foto do Grêmio o havana está presente nas camisetas.

Dias voltou para São Paulo, onde faleceu de peritonite, deixando a esposa Maria José - filha do deputado estadual José Roberto Leite Penteado - e um casal de filhos pequenos, Rachel (falecida em 1988, aos 76 anos) e Roberto (falecido em 1951, aos 35 anos). Até o jornal sorocabano Cruzeiro do Sul, em seu Caderno de Domingo de 14 de julho de 2013, publicar matéria especial sobre o "Dono da Bola" que criou o Grêmio, nem seus netos Maria Thereza, Yolanda e José Roberto, filhos de Rachel, conheciam a importância histórica do avô para o clube. Sobre a sua estada no Sul, José Roberto disse: "Nem sabia disso. Também tinha ouvido essa história dele ter fundado o Grêmio, mas nunca levei a sério". Inclusive só souberam de seu nascimento em Sorocaba e a causa de sua morte após o Cruzeiro do Sul localizar a certidão de óbito. "Nossa vó não falava muito do Candido. (...) Quando o Candido morreu, a nossa mãe tinha apenas cinco anos de idade e, por isso, também teve pouco contato com ele" - informa Maria Thereza.

Eis a história do Dono da Bola, com breve, mas essencial, passagem pela história do Grêmio em seus primeiros dias, o Dias. Agradeço ao cônsul gremista em Charqueadas, José Luis Cunha, pelo empréstimo da versão impressa do Caderno de Domingo do jornal Cruzeiro do Sul, que possibilitou a pesquisa para esse artigo.

Um bom final de semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, ajudem os atingidos pela cheia, vivam e fiquem com Deus.




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